Há a capacidade de nos afastarmos das guerras que assolam o mundo, afinal a Síria e o Afeganistão, a Etiópia e a Ucrânia estão longe.
Mas a arrogância do Putin traz a Ucrânia para um palco de guerra bem mais próximo, e os atentados do ISIS tornam-se próximos quando nas suas trincheiras estão uma série de Europeus, pessoas que se cruzam connosco na rua todos os dias.
Tenho andado a ler Daniel Silva, pró-israelita convicto, e talvez por isso, as notícias que leio todos os dias apertam-me o coração e deixam-me com medo. Com muito medo.
O fanatismo é algo que me ultrapassa, sempre foi. Sempre me causou repulsa o fanatismo religioso, o fanatismo político, o fanatismo futebolístico e até fanatismo musical.
Tudo o que seja extremo é algo que me enoja e me faz dar quatro passos atrás quando conheço alguém que o pratica. Deito a correr pra bem longe, ponho os praticantes a milhas, e desapareço no horizonte.
Só que este fanatismo actual é algo do qual cada vez menos se consegue escapar, basta lembrar o avião da Malásia airlines que estava cheio de colegas e amigos, famílias de pessoas que tal como eu, vão de férias ou reunir-se com as suas famílias. Podia ter sido qualquer um de nós. Podia ter sido eu dentro daquele avião.
Tenho uma viagem planeada pro Irão em Dezembro e estou cheia de medo de comprar o bilhete de avião porque passa pela Turquia, ponto crucial de entrada de jihadista na Síria e no Iraque. Ao meu lado pode ir um destes filhos da puta que decapitam pessoas sem dó nem piedade e que decidem abandonar a liberdade que lhes é dada nas democracias europeias, em troca de um modo de pensar e viver que anula tudo aquilo que me é conhecido como sendo os meus direitos enquanto mulher e enquanto ser humano.
Já não me consigo alhear e pensar: isto é longe.
Estão demasiado perto, e a cada linha que leio só penso: mas que mal fizemos nós a esta gente? Que caralho fizemos nós a estes seres que estão a juntar-se às fileiras de fanáticos islâmicos? Em que é que o meu dia a dia, os meus passos e a minha vivência, os incomodam? Que necessidade é que têm de ensombrar os nossos dias com terror constante?
Como é que o partido de extrema direita na Holanda, declaradamente anti-Islão, não vai ter mais de 20% de intenções de voto depois deste terror diário a que nos submetem?
Como é que não esperam que as pessoas rejeitem os vossos irmãos quando vocês, que se consideram defensores dos mesmos, crescem quais cobras manhosas em ninhos escondidos no meio deles, em pleno coração europeu, e os traem com a vossa partida pras fileiras duma guerra que nem é a vossa?
Tenho o estômago embrulhado.