Os amigos que se fazem, com toda a certeza!
Imaginem o que é na primeira noite em que nos vemos de pijama, eu e a minha colega de quarto vermos que os pijamas são iguais, os nossos casacos de viagem só mudam de cor, que quando abertas as malas as camisas são iguais, e que pronto, somos Sisters, ou em “inguelish”: Sistas!
Foi amizade à primeira vista, ou ao primeiro pijama! Somos parecidíssimas, ambas aceleradas, cheias de vida, independentes, pensamos da mesma forma, gostamos mais de viajar que de hotéis de cinco estrelas, chegou ao ponto de falarmos em uníssono! Ganhei uma amiga, uma irmã ao estilo: separadas à nascença.
Ao fim de três dias eu e a Sista já fazíamos ginástica de manhã como a Maria José, sim, que nós queremos todos ser como ela, a mulher mais genial de todos os tempos, que com 78 anos nos deu uma lição de vida a todos, ao mesmo tempo que se esforçava por aprender com todos nós. Quem é que está disposto a aprender com esta idade? Só alguém muito extraordinário.
Destemida, independente, com um positivismo e uma sabedoria na hora de viver que me deixou a mim a um canto, valente, curiosa, ela dança tango, ela dá workshops de alimentação saudável, ela acorda a fazer ginástica, faz tai-chi e shi-kung (depois vejo como se escreve), ela desenha, ela maneja a máquina fotográfica xpto como ninguém, ela ri, ela nunca, mas nunca se queixou de um passeio a pé, fez os kilómetros todos (e foram muitos!) sem um ai, ela anima toda a gente, ela fala pelos cotovelos e conta histórias maiores que as minhas e muito mais giras, ela tem mais 40 anos que eu, mas trata-me como qualquer das minhas amigas da minha idade, sem maternalismos, sem preocupação afogada de mãe e já tem filhos e netos, a Maria José é uma companheirona, e viajar com ela é O privilégio.
Ganhou um “mánágér” que não sabe fazer contas, mas que é um mimo de pessoa, sempre atento, educadíssimo, se não fosse advogado dizia que era um verdadeiro Senhor! Estou a brincar Nuninho! Um fixe, um porreiro, um castiço, com imenso sentido de humor, este moço é um poço de informação sobre literatura e história.
Gostamos do mesmo tipo de livros, dos mesmos filmes, das mesmas séries, e quando chegamos à Necrópolis vibramos com a mesma intensidade quando eu disparei: e ainda há quem não entenda como é que eu gosto mais de vir visitar a Pérsia que de passar três dias esticada ao sol como um bacalhau! Naquele momento o Nuno olhou pra mim e disse-me: eu entendo-te. E descobrimos ali que ambos nos desesperávamos a comprar sapatos e vestíamo-nos na secção de criança! Estava o laço feito, podemos ir juntos às compras da Fnac até à Benetton pra miúdos ou gente baixinha como nós :))
O que eu me ri com ele foi incrível, apenas superado (se possível) com o quanto me ri com a Isabel, com especial relevo no dia que levamos 40 minutos a atravessar uma praça que se leva 4 minutos a cruzar. Há fotos minhas de rabo pro ar com um tripé minusculo ao lado dos mega tripés dos chineses que lá estavam, e nossas ajoelhadas no chão de tanto rir. A Isabel que ao fim de uma semana já me lia o olhar e me entendia sem palavras. A sempre atenta, carinhosa, alegre, despachada e decidida moça que comprou um tapete ao mesmo tempo que eu, e sem pestanejar. Ah carago, o que eu gosto de gente decidida, que se manda pra uma viagem sem conhecer ninguém num pulo! Com a Isabel aprendi o que é a solidez, a constância, e a perenidade de uma amizade começada anteontem.
E da Isabel passo à Vera, que embora não os tenha fisicamente, tem psicologicamente, tomates! Pra frente é que é o caminho, sabendo o que quer e o que não quer, a coerência em pessoa. E tem o mesmo ângulo que eu pra fotos, aliás, tem mais e melhor, ao ponto de eu ter deixado (praticamente) de tirar fotos pra ficar com as dela, assim como assim eram iguais, e a máquina dela era melhor que a minha, why bother?
A Maria João, que me falou nos interrails dela há mais de 20 anos atrás, sozinha, Europa fora, e que me lembrou imenso da minha Broa, com a mesma forma de falar e de pensar. Que trouxe um tacho pequenino do Irão, com a etiqueta do preço e tudo, só pro por em cima da mesa de modo decorativo, pra se lembrar da viagem e de nós. Não vale a pena repetir que é outro poço de literatura, história e conhecimento, vale?
Last but not the least, o nosso líder viajante, o Filipe.
Não sei se ele seria capaz de me aturar a mim e ao meu irmão na mesma viagem, mas caramba, nós somos iguais, só muda o sexo, e ele atura um e mete-se numa viagem com o outro? É de herói, pá!
E aturou-me estoicamente, sem nunca me mandar calar. Eu acho que ele já sabia por experiências passadas que não devia valer a pena esforçar-se 😉
O paciente, o calmo, o tranquilo, o porreiro, o castiço, o risonho, o grande coração que é este rapaz que se emociona todos os dias com as nossas alegrias e com o que vê pelas ruas.
Filipe, chegaste ao ponto de eu te deixar fazeres as mesmas piadas que o meu irmão, e como explicar isto: once you go that far, you don’t come back. Os meus amigos são aqueles a quem eu autorizo a piada e ofereço porrada simbólica, e tu conseguiste passar essa linha, e pronto, tás quilhado, agora é Kuoiso e Kuoisa! Mas diz lá, vá lá, eu sou mais fixe que ele não sou? Uma fácil, é o que eu sou!
Como é que podemos conhecer tanta gente parecida conosco numa única viagem? Com as mesmas paixões, pontos de vista, todos tão diferentes, todos tão parecidos, todos tão apaixonantes?
Sorte a minha!