A sharia no Irão

E as pessoas perguntam-me como é possível, e se não tive medo.

E eu tento explicar que Xiitas e Sunitas são diferentes, mas tenho sempre alguma dificuldade em explicar porque é que a Sharia é diferente no Irão, mas acho que este Artigo do Observador do Nuno André Martins está muito bem feito e escrito e pode tirar dúvidas.

É óbvio que não achei graça nenhuma a ter de andar com o lenço na cabeça o tempo todo, e que a condição da mulher não é de todo a mais fácil, mas é bem melhor que na Sunita.

Eu de religião não percebo nada, mas numa comparação de relance, parece-me melhor, não boa, ah. Ainda não acabei de publicar o meu diário completo de viagem, mas podem encontrar a minha primeira impressão aqui, e perceberem um bocadinho melhor como é que funciona a Sharia no Irão.

Aqui não há santos, de todo. Tudo isto é uma manobra pra se afirmarem e discutirem a sucessão de Maomé, desde 632 d.c., a sério, não há pachorra.

irao-header

 

Persia, a dream come true in Iran – DAY 3 – Teerão

29 de Dezembro de 2014, Iran

Com 9 horas de sono restablecidas, “amandamo-nos” pra dentro do metro, que como disse a Maria João, foi tão rápido que nem deu pra comprar umas cuecas! Literalmente, neste País, tal seria possível em escassas 3 ou 4 paragens de metro. Passamos outra vez pelo parque Shar em direcção ao Museu Nacional.
Só que estava fechado naquela segunda-feira, não que a gente entendesse porquê, mas era assim. Sem stress, trocamos logo pelo Palácio Golestan.

O Palácio Golestan escondidinho

 

O Palácio está meio escondido, quem vê de fora, entaipado que está entre horrorosos edifícios do ministério, ninguém diz o que ali está.

Uma pequena parte do interior do Palácio Golestan

A sala mais espectacular é sem dúvida a sala do trono, construída para que o Sha pudesse receber os chefes de estado estrangeiros, celebrar casamentos e recepções e inclusivamente coroar-se pela segunda vez em 1967, passado 25 anos de ter sido coroado pela primeira vez.
Cá pra mim ele achava que assim a coroa se lhe colava à cabeça. Adiantou-lhe muito! Só não lha arrancaram em 79 porque fugiu a tempo!
O certo é que, embora não tenha fotos da sala de espelhos, aquele tecto e até as paredes, coincidiram ipsis verbis com o meu imaginário duma sala das mil e uma noites. Os espelhos todos pequeninos a formar composições delicadas tanto nas paredes como nos tectos, foi das coisas mais bonitas que vi e vou continuar a ver nos meus sonhos. Que beleza.

Uma selfie numa das sala de espelhos (armada em intelectual com “gafas”)

Passamos a manhã toda no Palácio, onde vimos como viveram os Shas desde 1837, as peças extraordinárias que lhes foram oferecidas desde os tempos de Napoleão e da Rainha Vitória, e os quadros e estátuas de cera que representam esses seres feiosos que cagavam em sanitas de ouro enquanto o seu povo morria de fome.
Valeu a pena pra termos uma noção de porque é que houve uma revolução em 79, de porque é que os sacanas dos Ayatolas e dos militares conseguiram o poder (até hoje) e trouxeram o País pra trás mais de 50 anos, e hoje, quando o visito, sou obrigada a andar com um hijab.

Não há fotos que façam justiça ao Palácio Golestan

 

Não há fotos que façam justiça ao Palácio Golestan

 

I look like freaken royalty! 😀

 

Num é fácil andar por aí com uma camilha por cima do lombo…

 

A sério, não há fotos que façam justiça ao Palácio Golestan, AS salas dos espelhos eram qualquer coisa do outro mundo!

 

Who is the selfie master? I am!!! Esta vou pô-la cá em casa num “passepartuuuu”!

O Irão está a mudar graças a Deus e espero, sinceramente, que este País se mantenha em paz durante muitos anos, mas com um outro tipo de poder, mais permissivo, mais justo, muitísimo mais equalitário.
Almoçamos num tasco, muito concorrido e muito conhecido pela truta frita. Eu como enjooei de truta na Holanda, comi uma espécie de lentilhas, carne e beringela em molho de tomate e limão, e babei. Que delícia! E lambi os dedos com a beringela, com tomate, alho, e pimento que comi de entrada com pão Iraniano. Eu quero aprender a fazer aquilo em casa, tenho que ter a receita!!! Não sei o nome ainda, mas nos próximos dias vou descobrir e depois digo-vos!

A foto é da João, descobri há coisa de um mês que ela fotografou os pratos todos, por isso cá está a bela da truta frita.

 

E esta cena com ar de vomitado, é a tal cena de beringela, tomate, alho e pimento, que eu juro pela minha saúde que era maravilhoso, mas não consegui saber o nome, se alguma alma caridosa quiser deixar nos comentários, está à vontadinha!

Depois do almoço apanhamos um autocarro pra Kashan, e a estação central de autocarros é surreal, tenho que explicar isto que é muito engraçado: ainda dentro do taxi o Filipe disse-nos pra cada vez que falassem conosco respondermos “Kashan”, que assim eles desamparavam a loja.
Não percebi o porquê, mas fizemos o que ele nos disse, e seguimos de malas às costas atrás dele. E realmente sempre que se dirigiam a nós e dizíamos Kashan, os tipos bazavam…excepto um deles que me disse “Kashan” de volta e me mandou segui-lo.
Ora pois tá claro que me borrifei pro homem, mas isto foi ao mesmo tempo que chegamos ao interior da estação e percebo finalmente como é que isto funciona! Há uma série de homens cá fora a perguntar pra onde vais, porque há várias empresas a irem pro mesmo sítio, e os tipos vêm cá pra fora pra arranjarem clientes. Imaginem que uma rede de expressos, a rodonorte, a renex e outras que tal, tinham à porta das estações uma pessoa pra vos desafiar a escolher uma delas, que cena marada, ah!
Embora haja guichets, até onde eles vos acompanham pra comprar o dito cujo, são sete cães a um osso a tentar encher os autocarros. Essa é outra, mandaram-nos logo logo pro autocarro, e depois ficaram à espera de mais clientes pro acabar de encher. O que eu não consegui perceber bem é se os autocarros saem constantemente, ou se têm um horário pra sair, o Filipe riu-se quando lhe perguntei e disse que sim, que têm um horário, pode é ser um horário flexível…. :)))
É só rir neste País.

Kashan here we go. O autocarro é bem nice, há que dizer, até nos deram lanche e tudo! Lindo :))
São 3 horas, podiam aparecer aí as senhoras da lingerie, de certeza que fazíamos negócio!

PS: o caravensai onde ficamos em Kashan é lindíssimo! Chegados a Kashan saímos pra uma volta mínima de reconhecimento depois de jantarmos maravilhosamente no caravensai, e passamos numa frutaria e o dono vê o Filipe e faz-lhe uma festa enorme. Manda-nos entrar, oferece-nos laranjas cortadas aos quartos, (e não se esqueçam que éramos 11 pessoas!), e convida-nos A TODOS pra jantar lá em casa no dia seguinte. Era a primeira prova da afamada hospitalidade Iraniana, que assim que te conhecem oferecem-te comida e até te convidam pra ficar a dormir lá em casa. Eu que já tinha lido sobre isto, não queria acreditar.

Mais uma foto da João, e ali está o frango carregado de alecrim, o melhor da viagem, sem dúvida.

 

O Filipe vai-me rifar, mas eu vou por aqui uma foto do spot onde ficamos, sempre quero ver-vos encontrá-lo na Booking.com !

Highlights

Palácio Golestan
A sala do trono e dos espelhos
O caravensai de Kashan
O frango com molho de tomate e alecrim

Persia, a dream come true in Iran – DAY 2 – Teerão

28 de Dezembro de 2014, Iran
Bazar de Teerão
Quando cheguei estive mais de meia hora à espera no control de passaportes porque os gajos são leeeeentos! Até o amigo da primária o gajo carimbou, nunca mais se despachava. Eram quase seis da manhã quando finalmente me despachei. O Filipe estava à minha espera, e eu fui toda lançada pra lhe dar um abraço e dois beijinhos, e ele dá um passo pra trás e estica-me o “bacalhau”! Ora bamo lá a ber, o Filipe era da Tuna do meu irmão, tinha estado com ele a falar da viagem no Celta, é “de abraço”, né?! Mas nesta terra os homens e as mulheres não se tocam em público, não há cá beijinhos ou abraços a não ser que sejas da família ou casados. Welcome to Iran Sofia! Tás perdoado Filipe :))

Chegada ao hotel, com uma directa em cima, foi-me dado a escolher ir dormir e perder o primeiro dia, ou aguentar-me até poder e aproveitar. Tá claro que enfiei três cafés no bucho e lá fui eu! Não sem antes conhecer o grupo e avisar as hostes que eu falo o triplo quando bebo café, aparvalho ao limite e só digo asneiras, mas caso estivessem todos de acordo em mandar-me calar, estavamos bem!

O grupo é espectacular, como todos os grupos da Nomad, e eu acho que sou a mais nova. A mais velha do grupo é a Maria José, 78 anos de fazer inveja a muuuuuito gaiato de 20! Já lho disse pessoalmente, mas fica aqui o registo: eu quando for grande quero ser como ela, mesmo. Ela já foi com a Nomad à Etiópia, à Birmânia, à Indochina, e meu, fez o Transiberiano com o Jorge Vassalo! De comboio durante dias!!! Está escrito: É a M-A-I-O-R!!! Somos 8 mulheres e 3 homens, e já todos tinham chegado (e dormido) no dia anterior, só faltava eu pra compor o ramalhete, e que belo ramo :)))

No metro as mulheres vão separadas dos homens, a não ser que sejam parentes e então podem ir noutra carruagem mista.
Bazar de Teerão

Às 9 e meia estava tudo pronto pra começar, e apanhamos o metro pro Bazar. Homens num lado, mulheres no outro. Todas de hijab, umas com o véu mais caído que outras, mas quase todas mostram o cabelo no topo, e têm todas uma pinta… Só nós é que parecíamos umas lavradeiras, oh pa, e sempre a chamar a atenção umas às outras porque o lenço estava a cair. Entramos no metro e começa a loucura: há mulheres a vender lingerie, molas pro cabelo, vernizes, maquilhagem, clutchs, you name it! Os soutiens passam de mão em mão até às interessadas, uns são azul elétrico, outros vermelhos e há até amarelos canário! A moça ao meu lado escolheu um, mandou o dinheiro de mão em mão até à vendedora, tudo isto no meio dum monte de mulheres de manto, apertadas umas contra as outras, sem lugar pra mexer nem o dedo mindinho! Quando saímos na paragem do Bazar, fomos literalmente enroladas e empurradas até à saída, e no meio desta tourada, a Maria José tinha feito 3 sketchs espectaculares, de pé e sem se apoiar. Lindo!

O bazar às 11 e meia da manhã, num dia normal, cheio de gente por todo o lado, impressionante.
Esse daqui é o novo hit da estação, querida!
No Irão não se usa burka, mas sim shador, esta espécie de camilha ou lençol preto por cima da roupa.
O que existe por baixo do pretinho básico!
O Bazar é uma loucura de gente, mas contrariamente ao de Istambul ou de Marrocos, não tem turistas e ninguém te persegue pra te vender seja o que for. Há lá de tudo, coisas que há anos que não via à venda, tudo muito dourado, muito cheio de motivos,muito bling, excepto a zona dos tecidos, aí era só panos pretos e só me consegui lembrar do Moda da Porta dos Fundos: esse está super na moda este ano, não gosta não? Então é um pretinho básico, um clássico, né? Ri-me sozinha ao lembrar-me do “tou-me sentido um pouco vagabunda”, eles são geniais.

De repente começamos a ouvir vozes exaltadas e vejo um tipo enfiar a cabeça dum senhor contra uma bancada. Não faço ideia o que se passa, ninguém fala farsi, por isso paramos quietinhos à espera que passe, e eis que vejo a cara do senhor cheia de sangue que escorre da testa rachada. Na mão tinha uma série de papéis que abanava freneticamente enquanto falava alto e se recusava a ir embora ou desistir. Imagino que fossem contas que queria cobrar ao outro.
O Filipe estava chocado porque diz que nunca tinha visto violência física no Irão, nem mesmo em Teerão, muito menos uma cena de porrada daquele género. Eu cá achei interessante, imaginei logo uma história do estilo “o gajo casou-se com a filha do velhote e agora recusa-se a pagar as contas do casamento porque descobriu que ela não era virgem”, ou então “o velhote emprestou-lhe dinheiro pra fugir pros Estados Unidos em troca dum acordo que o outro se recusa a pagar mesmo agora que já é rico”, tanta coisa gira que dali se podia espremer….
Bazar de Teerão, já com a molinha…

Por indicação do Filipe compramos umas molas pro cabelo que têm umas flores muito grandes agarradas, que se põe por baixo do lenço e que evitam que ele ande sempre a escorrer e a cair. Fica brutal, confesso, e realmente nunca mais me lembrei do dito cujo, aquilo segura mesmo e ainda dá a impressão que tenho um coq na cabeça, tipo anos 60, coisa só imaginável com um cabelo pelo fundo das costas. Eu não gosto de andar de lenço, mas adoro um bom penteado, e modéstia à parte, com uma boa maquilhagem, fico gira à brava! Modéstia-0 (zero), Sofia – 10! 😀

Mesquita Iman Khomeini
Mesquita Iman Khomeini

Dentro do Bazar há a Mesquita Iman Khomeini onde tivemos a sorte de poder entrar. Por fora não è nada do outro mundo, mas a sala de oração das mulheres era bem linda, e as senhoras foram uns amores e deixaram-nos tirar fotos lá dentro e tudo. A Filipa até sacou do stick do iphone e tirou umas selfies conosco :)) e eu também, está claro. Morta de sono, mas rendeu!

Saímos do Bazar, não sem antes beber um sumo de romã natural, e fomos até ao parque Shahr descansar da azáfama e da poluição. No centro do parque há um monumento pela paz, que explica que o Irão foi o primeiro País alvo de armas químicas e nucleares durante a guerra Irão-Iraque de 80 a 89, e que apela ao perdão e a que tal jamais volte a suceder. O parque é bonito, deu pra ir à casinha (não pensem que é fácil encontrar um WC fora de casa no Irão!)e descansar um bocadinho, e fazer tempo pro Museu das Jóias e que só está aberto das 14 às 17.

Vou explicar assim o museu das Jóias (que fica dentro dum cofre): imperdível, fascinante, incrível, uma verdadeira jóia e pérola para compreender o passado recente do Irão.
Bastava UM dos diamantes que vi lá dentro pra alimentar um País inteiro durante um mês. Não se pode tirar fotos, o museu é muito pequeno, mas vale a pena pra se entender a dimensão da riqueza do Sha da Pérsia só nos últimos 250 anos: um globo terrestre feito de ouro e cravado a esmeraldas, rubis, safiras, turquesas e diamantes, umas coisas que parecem umas pulseiras, todas cravadas de pedras preciosas e que eram usadas pra por no rabo dos cavalos (!!), coroas cravejadas, pérolas usadas pra enfeitar os cavalos, esqueçam, a sério, têm que lá ir, porque contado ninguém acredita. Se me dissessem que aquele era o tesouro do Ali Baba e dos 40 ladrões, eu acreditava.

Em carneirada, a foto é gentilmente fornecida pelo companheiro de viagem Alberto
Pela cidade há edifícios magníficos que ainda hoje permanecem, e com desenhos dos Assírios… no Irão tudo é história
Almoçamos num café ali perto que pra mim era uma espécie de Noobai Iraniano, muito simpático, chamado Romance. Mostro-vos a conta pra ver se entendem alguma coisa :)) que tal, ah?
Sabe Deus saber se foi aquilo que comeste, quanto mais quanto é que tens de pagar, já viram a numeração? Não é lindo? 😀

Eu estava quase a morrer, mas não é meu apanágio dar parte de fraca, por isso malhei mais um café, e fui com o pessoal ver o norte de Teerão.
O norte é onde vivem os ricos, ou melhor dito, os muitos ricos. As casas são do outro mundo, e só tenho pena de não conhecer ninguém aqui pra ver uma casa destas por dentro, andar sem véu e ir a uma festa onde houvesse até alcool. Claro que me ia sentir uma sem abrigo, mas e daí? 😀
Subimos à montanha, vimos malta a fazer jogging, inclusivamente raparigas de lenço na cabeça . A minha grande questão é: será que há hijabs anti-transpirantes?!?!
A vista é fascinante porque se vê a cidade toda, e a montanha é pra onde os Iranianos vão namorar, à discoteca, fazer piqueniques, enfim, e estava cheio de gente, muito embora já tivesse anoitecido há muito.

Descemos da montanha e basicamente colapsei de sono na carrinha do Magdavid e apaguei no quarto do hotel. E que belíssima cama, senhores.

Highlights

Bazar de Teerão
Praça Iman Khomeini
Parque Shahr
Museu das Jóias
Montanhas a norte de Teerão
O grupo e o Filipe
O Hotel Eshan
As vendedoras dentro do metro
O café Romance

Persia, a dream come true in Iran – DAY 1 – Partida

27 de Dezembro de 2014, Iran

A Turkish airlines tem a melhor selecção de filmes dos últimos tempos, a comida é excelente, o serviço simpático, e gostei tanto que vou passar a usá-la (sempre que for financeiramente agradável) nas minhas próximas viagens.

Não é que finalmente vi o Grand Budapeste Hotel do Wes Anderson? Meses que andei atrás desta pérola e vim vê-lo num avião. O filme é excelente.
QUASE que compensou o bedum do gajo que se sentou ao meu lado entre Istambul e Teerão. De Lisboa a Istambul vim na companhia da Lidia, uma simpatia.
Mas no segundo trecho da viagem não tive tanta sorte. Será possível que esta malta desconhece um perfuminho, uma colónia, sei lá! Estou aqui a mandar piadas, mas não tem graça nenhuma, este homem fede. Enfim, nem sempre se pode ter sorte em tudo, né? Daqui a duas horas já aterro e já se acaba o suplício.
Mental note to self: não usar aeromax pra desentupir o nariz tão frequentemente, tem as suas desvantagens….
Vou-me “equipar”: lenço na mona, posto como vi no youtube…será que aguento?
Nunca mais sigo o youtube, fiquei ridícula, que ar de monga!

Highlights

Grand Budapest Hotel do Wes Anderson
A Turkish airlines

Conhecer a Pérsia – era um sonho antigo que se concretizou quando cheguei ao Irão.

A partir de hoje vou postar o meu diário de bordo e as fotos da minha viagem à Pérsia, mais conhecida actualmente por Irão.
Foi a viagem de uma vida, na excelente companhia do Filipe Morato Gomes e de grandes amigos que hoje em dia preenchem os meus dias de sol e de chuva, com o selo de qualidade da Nomad, que recomendo vivamente a toda a gente e com a qual decidi passar a viajar doravante até lhes esgotar as viagens todinhas.
Eu não tenho qualquer comissão ou patrocínio da Nomad, pura e simplesmente gosto de anunciar e recomendar produtos de qualidade, e até hoje nunca recomendei nada que não tivesse experimentado. Fui a Marrocos com eles em Maio do ano passado, e ao Irão em Dezembro, em Julho de 2015 vou fazer a América Central com eles também, e a minha passagem do ano vai ser no Perú e na Bolívia na companhia de 3 amigos que fiz na viagem ao Irão e do António Luis Campos.
Estão com inveja? Então esperem até eu começar a postar os relatos…
E só pra que conste, eu tenho inveja de mim mesma!!!!

Humans of New York goes to Iran

Recomendo vivamente, não só o Humans of New York de quem sou fãzérrima por causa da Xana e do Miguel que me ofereceram o livro, mas este texto e páginas que são o relato da viagem do rapaz por trás da câmara, ao Irão:

Iran’s government is not its people. You can greatly enjoy a country, while at the same time disagreeing with it’s government. Travel is not advocacy of ideology or policy. Travel is travel, and it’s the single greatest contributor to understanding between cultures.

O melhor das férias?

Os amigos que se fazem, com toda a certeza!

Imaginem o que é na primeira noite em que nos vemos de pijama, eu e a minha colega de quarto vermos que os pijamas são iguais, os nossos casacos de viagem só mudam de cor, que quando abertas as malas as camisas são iguais, e que pronto, somos Sisters, ou em “inguelish”: Sistas!

Foi amizade à primeira vista, ou ao primeiro pijama! Somos parecidíssimas, ambas aceleradas, cheias de vida, independentes, pensamos da mesma forma, gostamos mais de viajar que de hotéis de cinco estrelas, chegou ao ponto de falarmos em uníssono! Ganhei uma amiga, uma irmã ao estilo: separadas à nascença.
Ao fim de três dias eu e a Sista já fazíamos ginástica de manhã como a Maria José, sim, que nós queremos todos ser como ela, a mulher mais genial de todos os tempos, que com 78 anos nos deu uma lição de vida a todos, ao mesmo tempo que se esforçava por aprender com todos nós. Quem é que está disposto a aprender com esta idade? Só alguém muito extraordinário.
Destemida, independente, com um positivismo e uma sabedoria na hora de viver que me deixou a mim a um canto, valente, curiosa, ela dança tango, ela dá workshops de alimentação saudável, ela acorda a fazer ginástica, faz tai-chi e shi-kung (depois vejo como se escreve), ela desenha, ela maneja a máquina fotográfica xpto como ninguém, ela ri, ela nunca, mas nunca se queixou de um passeio a pé, fez os kilómetros todos (e foram muitos!) sem um ai, ela anima toda a gente, ela fala pelos cotovelos e conta histórias maiores que as minhas e muito mais giras, ela tem mais 40 anos que eu, mas trata-me como qualquer das minhas amigas da minha idade, sem maternalismos, sem preocupação afogada de mãe e já tem filhos e netos, a Maria José é uma companheirona, e viajar com ela é O privilégio.
Ganhou um “mánágér” que não sabe fazer contas, mas que é um mimo de pessoa, sempre atento, educadíssimo, se não fosse advogado dizia que era um verdadeiro Senhor! Estou a brincar Nuninho! Um fixe, um porreiro, um castiço, com imenso sentido de humor, este moço é um poço de informação sobre literatura e história.
Gostamos do mesmo tipo de livros, dos mesmos filmes, das mesmas séries, e quando chegamos à Necrópolis vibramos com a mesma intensidade quando eu disparei: e ainda há quem não entenda como é que eu gosto mais de vir visitar a Pérsia que de passar três dias esticada ao sol como um bacalhau! Naquele momento o Nuno olhou pra mim e disse-me: eu entendo-te. E descobrimos ali que ambos nos desesperávamos a comprar sapatos e vestíamo-nos na secção de criança! Estava o laço feito, podemos ir juntos às compras da Fnac até à Benetton pra miúdos ou gente baixinha como nós :)) 
O que eu me ri com ele foi incrível, apenas superado (se possível) com o quanto me ri com a Isabel, com especial relevo no dia que levamos 40 minutos a atravessar uma praça que se leva 4 minutos a cruzar. Há fotos minhas de rabo pro ar com um tripé minusculo ao lado dos mega tripés dos chineses que lá estavam, e nossas ajoelhadas no chão de tanto rir. A Isabel que ao fim de uma semana já me lia o olhar e me entendia sem palavras. A sempre atenta, carinhosa, alegre, despachada e decidida moça que comprou um tapete ao mesmo tempo que eu, e sem pestanejar. Ah carago, o que eu gosto de gente decidida, que se manda pra uma viagem sem conhecer ninguém num pulo! Com a Isabel aprendi o que é a solidez, a constância, e a perenidade de uma amizade começada anteontem. 
E da Isabel passo à Vera, que embora não os tenha fisicamente, tem psicologicamente, tomates! Pra frente é que é o caminho, sabendo o que quer e o que não quer, a coerência em pessoa. E tem o mesmo ângulo que eu pra fotos, aliás, tem mais e melhor, ao ponto de eu ter deixado (praticamente) de tirar fotos pra ficar com as dela, assim como assim eram iguais, e a máquina dela era melhor que a minha, why bother? 
A Maria João, que me falou nos interrails dela há mais de 20 anos atrás, sozinha, Europa fora, e que me lembrou imenso da minha Broa, com a mesma forma de falar e de pensar. Que trouxe um tacho pequenino do Irão, com a etiqueta do preço e tudo, só pro por em cima da mesa de modo decorativo, pra se lembrar da viagem e de nós. Não vale a pena repetir que é outro poço de literatura, história e conhecimento, vale? 
Last but not the least, o nosso líder viajante, o Filipe.
Não sei se ele seria capaz de me aturar a mim e ao meu irmão na mesma viagem, mas caramba, nós somos iguais, só muda o sexo, e ele atura um e mete-se numa viagem com o outro? É de herói, pá!
E aturou-me estoicamente, sem nunca me mandar calar. Eu acho que ele já sabia por experiências passadas que não devia valer a pena esforçar-se 😉
O paciente, o calmo, o tranquilo, o porreiro, o castiço, o risonho, o grande coração que é este rapaz que se emociona todos os dias com as nossas alegrias e com o que vê pelas ruas.
Filipe, chegaste ao ponto de eu te deixar fazeres as mesmas piadas que o meu irmão, e como explicar isto: once you go that far, you don’t come back. Os meus amigos são aqueles a quem eu autorizo a piada e ofereço porrada simbólica, e tu conseguiste passar essa linha, e pronto, tás quilhado, agora é Kuoiso e Kuoisa! Mas diz lá, vá lá, eu sou mais fixe que ele não sou? Uma fácil, é o que eu sou!
Como é que podemos conhecer tanta gente parecida conosco numa única viagem? Com as mesmas paixões, pontos de vista, todos tão diferentes, todos tão parecidos, todos tão apaixonantes? 
Sorte a minha!

Só pra vos dar um cheirinho da viagem ao Irão…

Enquanto publico a da Indochina, aqui vai um cheirinho da viagem ao Irão pela pena de Filipe Morato Gomes, o nosso líder da Nomad nesta viagem, e hoje meu amigo a quem estou eternamente grata por me ter proporcionado a viagem com que sonhei durante mais de vinte anos enquanto lia o Samarcanda do Amin Maalouf.
Agora vão ter de esperar pelos meus relatos e fotos, mas nada supera a experiência e a vivência, mesmo tendo de usar um lenço na cabeça como as meninas do Albert Heijn.
É só usarem os links.

And I’m back!!

Está tudo escrito e relatado em pormenor sobre este tempo no Irão com a Nomad, mas antes quero acabar o relato do Vietname e do Cambodja, por isso vão ter de esperar mais um bocadinho.

Deixo mais uma foto, que me custou a escolher no meio de mais de três mil fotos, da Andorinha no Irão.
Bom ano 2015 pra todos!!!
Sofia