BRAGA
Pergunta frequente e para cuja resposta nem sempre tenho paciência. Hoje aqui explicada em vez única a quem me faz tal pergunta.
Eu sei que sou aquilo a que chamam uma pessoa bastante sociável, mas isso não significa que uma pessoa, mesmo que “sociável” seja capaz de se integrar em 3 tempos.
Andei 4 anos num colégio, mais 8 anos noutro colégio, fui aprendendo a fazer amizades longas e com o tempo. Em Braga, mesmo assim, nem sempre me senti integrada.
Quando fui para Coimbra fui enfiada num lar de freiras (no qual nunca me integrei) com mais 60 miúdas, conheci do melhor e do pior que pode existir do “bicho” que pode ser “uma mulher”, topo determinadas características a léguas e sou muitas vezes preconceituosa, mas também estilo Cavaco, nunca me engano e raramente tenho dúvidas nesse aspecto. Embora vivesse numa casa com 60 mulheres e tenha feito algumas amigas (muito poucas, diga-se de passagem, as que o são sabem quem são e onde estão 😉 ), só no final do meu segundo ano de faculdade/início do terceiro é que comecei a pertencer a um grupo sólido de amigos e a sentir-me integrada. Foi o primeiro grupo a que pertenci. You see, é que eu nunca fui muito de agrupamentos, de ter 4 ou 5 amigas coladas a mim e vice-versa, sempre gostei de poder falar com toda a gente, quando e onde me apetecesse. Nunca apreciei muito ser liderada ou andar em carneirada, sempre gostei de ser a Sofia e não a miúda baixinha do grupo da fulaninha de tal, ou a que costuma parar no Farol.
Portanto, levei mais de 2 anos p’ra sentir que pertencia a um grupo, grupo esse que respeitava e apreciava a tradição de Coimbra dentro dos limites que eu gostava e com que me identificava e faziamos juntos coisas muito giras que me fizeram amar os meus tempos de Coimbra e sentir-me ligada aquela cidade pra sempre. Hoje são a minha segunda família, tenho a minha “sobrinhada” (que com muita pena raramente vejo, mas de certeza que os Pais lhes falam na maluca da Tia Sofia que vive na Holanda) que já vai nuns..18? 19 miúdos? Perdi a conta! São lindos, têm Pais maravilhosos, têm Avós e Avôs fantásticos (sim, nós somos uns 20 e tal no grupo e conhecemos os Pais todos uns dos outros), e até têm um Bisavô Mirante!
Quando fiz erasmus conheci imensa gente, e senti-me integrada no grupo que me rodeava ao fim de 2 meses, mas estavamos todos fora de casa, ninguém tinha os seus melhores amigos por perto, é muito fácil conhecer pessoas e estabelecer relações fortes. Comecei a falar espanhol sem pronúncia ao fim de 1 mês, contudo, durante um ano inteiro, nunca senti que estivesse integrada em Valladolid, muito menos em Espanha. Passados 3 anos de ter terminado o meu erasmus comecei a fazer viagens de veleiro e na primeira viagem os meus companheiros de barcos eram quase todos Vallasolitanos e voltei de visita a Valladolid em Setembro de 2001. Foi a primeira vez que não me senti estrangeira, que nenhum gajo olhou pra mim num bar com olhos de: és estranja, és fácil, vou-te comer! Conhecia todos os recantos da cidade, sempre acompanhada pelos meus amigos fiz um fim de semana inteiro de vida espanhola, fiquei em casa deles, fui aos bares a que eles iam. Foi a primeira vez que me senti: integrada.
Mas levei uns..4 anos, até me “integrar”.
Quando fui viver p’ra Lisboa pensei: é Portugal, são portugueses, vai ser fácil. Já mudaste de cidade 2 vezes, Maria Sofia, a terceira é canja!
Não foi.
Levei CINCO anos p’ra me sentir integrada em Lisboa. Apaixonei-me pela cidade ao fim de um mês, mas levei muito e bom tempo a sentir-me “em casa”. Foi ao fim de 5 anos que fiz parte do primeiro grupo de lisboetas, até lá só conhecia os meus colegas do trabalho e amigos do norte e de Coimbra que estavam desterrados em Lisbon City como eu. Foi de repente, não fiz qualquer esforço, não mudei de pronúncia, continuo a trocar os “v” pelos “b” constantemente e falo como se tivesse uma batata na boca e digo montes de palavrões à mistura. Quisás, se calhar, passei a entender que não podia ir tomar café depois de jantar todos os dias como fazia em Coimbra ou em Braga, passei a entender que quando um Lisboeta te diz: “Jantar? Pode ser! Pra semana, né? Ok, depois combinamos.” NÃO QUER DIZER QUE TENHAM UM JANTAR COMBINADO NA PRÓXIMA SEMANA! Quer apenas dizer que és uma pessoa agradável, com quem o fulaninho gostaria de jantar algum dia, e se, pra semana, ele não tiver nada mais urgente ou mais preemente pra fazer, E SE te voltar a ver e voltar a sentir vontade de ir jantar contigo, ENTÃO, MAS SÓ ENTÃO, combina contigo jantar até naquela própria 5° feira em que se voltaram a ver. MAS não contes jantar antes das 9:30 ou 10 da noite. É que antes de jantar ele(a) tem que ir ao ginásio ou ao yoga, ou tomar café com o amigo(a) tal, vai a casa tomar um duche e SÓ DEPOIS é que vai ter contigo. E nada de ficares ofendido porque ele(a) trouxe com ele o amigo(a) com quem tava a tomar café, afinal é sempre mais uma pessoa que conheces, e se ele(a) o consideram uma pessoa engraçada ou gira, então tu muito possivelmente vais achar que o outro também o é. Além disso, o restaurante é grande, público, e vocês são só amigos, não há necessidade de jantar às luz das velas a dois, nãooooo é?
CERTO.
Eu já tentei contar isto muitas vezes à malta de Lisboa e todos, mas todos se riram e disseram: eh pa, eu sei, mas isso é normal, né?!
NÃO, não é normal. É normal quando se vive numa cidade grande, cheia de coisas p’ra fazer, com milhentas oportunidades e pessoas p’ra conhecer, como Lisboa 🙂
Eu aprendi a fazer este tipo de “combinações” também, e hoje em dia sou craque nelas! Vou tomar café com a Mafalda, trago-a comigo pro copo pré-dinner com o Nuno, o Hugo e o Paulo, acabamos a jantar todos juntos e depois do jantar dou um salto ao bar XPTO onde está a Cris.
HOJE, vivo na Holanda há ano e meio, conheço “uma tonelada” de pessoas, fiquei muito amiga de duas ou 3, quisás 4, e gosto muito dos restante, mas não significa que me sinta integrada, percebem? Como eu dizia no outro dia a uma amiga, o facto de eu (ela, todos) conhecer portugueses cá não significa que, lá porque vivo no cú do mundo, tenha de ser a melhor amiga de TODOS os Tugas que conheço cá! Posso ter afinidades com uns num determinado tema, posso ter afinidades com outros noutro tema, e há outros com quem não tenho afinidade nenhuma, que não sentem que tenham afinidade comigo, mas com quem convivo quando estamos em grupo e somos educados e simpáticos uns com os outros, (porque não?!), mas isso não faz deles meus amigos e vice-versa!
O facto de eu poder vir a ter mais amigos holandeses que portugueses não quer dizer que eu possa nessa altura sentir-me mais integrada, porque tal como com os portugueses, eu serei amiga dos holandeses com quem sinta afinidade, e isso meus caros, leva o tempo que levar, e se eu bem me conheço, pelo que acabo de descrever, levará uns 3 ou 4 anos, e eu nem sei se cá vou estar tanto tempo!
TEMPO, É PRECISO TER TEMPO. É PRECISO CALMA. É preciso que eu chegue e diga: que bom voltar a casa. No dia em que eu sair do avião e sentir METADE do que eu sinto quando chego à Portela quando vejo as palmeiras do aeroporto, nessa altura direi: começo-me a integrar. No dia em que eu chegar a Schiphol e sentir o MESMO que sinto quando chego a Lisboa: INTERNEM-ME. Mas não se esqueçam, nessa altura sentir-me-ei: integrada!
Percebo perfeitamente!
Apesar de nunca ter vivido fora de Portugal, vivo sozinha há muitos anos, e já vivi numa aldeia, numa vila e duas cidades (quer dizer vivi numa cidade e nos arredores de outra, Lisboa) … e sentir-me em casa não é fácil… Acho que agora que tenho a minha própria casa é a primeira vez que não tenho vontade de mudar.
E apesar de trabalhar no aeroporto e ver as ditas palmeiras todos os dias ainda acho maravilhoso a chegada de uma viagem….
bjs
Identifiquei-me com muito do que aqui partilhas 😉
Do ser tagarela, sociável e ter facilidade de se relacionar com os outros a se sentir verdadeiramente integrada vai um grande passo.
E as amizades precisam de ser fomentadas e isso leva tempo.
No que diz respeito a sentir-se em casa é ainda mais complexo, pois se por uma lado já não sinto que Lisboa seja a minha casa a Holanda também não o é verdadeiramente. Por vezes sinto-me um pouco avulso 😉
Jinhos
Pat, ter uma casa minha não me fez sentir em casa. A cidade, as pessoas com quem me identifico, essas sim, fazem-me sentir em casa. Mesmo quando vou "a casa" a Braga, por muito que adore os meus Pais, aquela já não é a cidade onde me encontro melhor, pq não me identifico com as pessoas. Mas fico contente por teres encontrado um lugar fixe, mereces 😉
Ceres, avulso é uma expressão que nunca tinha ouvido neste contexto 😀 Eu (na minha humilde opinião) penso que contigo se passa o que comigo acontece qdo vou a Braga. No teu caso funcionam os dois sítios onde viveste, eu vou já no quinto 🙂 Mas eu entendi o que queres dizer 😉 E sim, és sociável!!!E uma querida!
Uma coisa é o convívio, umas saídas, cafés, jantares, etc., etc., outra coisa é uma pessoa sentir-se integrada, não é? Creio que a integração só acontece quando uma pessoa percebe, descodifica e até age bastantes vezes da mesma forma que o resto da sociedade onde está (não falo da sociedade toda, isso não é uma unidade, mas de um grupo alargado de pessoas que se encaixam, em vários aspectos, em ti e na tua vida).
Gostei do "internem-me" quando sentires em schipol o mesmo que em Lisboa… lindo! 😀
Deste-me inspiração para escrever um post também deste género, sobre as cidades onde vivi…
Fizeste-me pensar sobre as cidades que podemos considerar "casa" e integradas… mas sabes que mais? Acho que a partir do momento em que saímos da nossa terra pela primeira vez, é como se assinássemos um contrato vitalício com o destino renunciando a qualquer conceito e direito de voltar a sentir-nos em "casa". Já reparaste que desde que saíste de Braga nunca mais te sentiste integrada em lado nenhum, e mesmo depois de regressar a Braga, nem mesmo ali te sentes "em casa"? Eu sinto o mesmo.
Beijinhos
Bom, bom é ter sempre uma cidade alterntativa, para pensar que nesse momento, onde se estava mesmo bem era lá. Eu tenho.:)