O reclame de pensos da Evax

Perguntam-me praticamente todos os dias como é que tem sido o meu regresso, se ainda estou satisfeita por estar de volta, se gosto de viver em Lisboa novamente, se não tenho saudades da Holanda, e se não acho que fui precipitada.

E eu lá respondo, cheia de paciência (que não tenho) que sim, que estou extremamente satisfeita, que adoro estar de volta e que não faço intenção nenhuma de regressar à Holanda e que não tenho saudades nenhumas do País de acolhimento.

E todos (excepto aqueles que regressaram como eu) me olham como se eu estivesse a delirar, como se eu andasse a fumar cenas estranhas ou a tomar pastilhas que me fazem ver unicórnios cor-de-rosa.

É claro que eu me passo com a incompetência dos correios Portugueses (uma encomenda nunca leva menos de duas semanas a chegar e nem bilhetes me deixam a dizer que tentaram a entrega e que tenho que levantar no sítio X, é suposto eu adivinhar! Gente burra), é claro que eu me passo quando tenho que marcar uma consulta da especialidade e me leva duas semanas (e no privado), é claro que eu me passo quando combino um jantar pras oito e me aparece a malta toda às nove (não me passo muito, mas vá), é claro que eu tenho pesadelos com a hipótese de perder a minha carta de condução e passar um dia inteiro no IMTT, o serviço mais incompetente do planeta, pra pedir uma nova. É óbvio que me custa que os meus cães não possam entrar em praticamente todo o lado, e que já tenha tido que fazer as compras à porta duma loja de produtos pro cabelo (a sério, a ASAE proíbe cães numa loja de produtos de cabeleireiro? I don’t think so!).

Mas estas merdas, desculpem a expressão, não representam rigorosamente NADA comparativamente com a alegria de perceber as minhas cartas, de poder telefonar a reclamar na minha própria língua, de ouvir as pessoas pedir licença e desculpa, de poder ouvir a minha música favorita na rádio a qualquer hora e de entender as piadas dos locutores, de entender o telejornal, de poder comunicar com todas as pessoas e crianças que passam por mim na rua, de ser a Menina Sofia no meu bairro (adooooro ser Menina), de amar cada sítio novo que me mostram (café, restaurante, loja) ou que descubro, e a incomparável felicidade de acordar com a luz do sol a entrar pela janela, que elimina qualquer tristeza, preocupação ou dor interior, porque me aquece a alma e o espírito. De poder ir ao teatro, ao cinema e a espectáculos de rua e entender não só o que dizem, mas todas as componentes emocionais e comentários dos que assistem e participam dos eventos como eu.

Só não compreende isto quem nunca viveu num País cuja língua lhe é incompreensível, quem nunca viveu sem sol durante dias a fio, quem nunca detestou a selecção musical e os gostos dum povo, quem nunca viveu num País com o qual não se identifica minimamente.

Eu adoro os canais de Amesterdão, os parques e as casas Holandesas de janelas imensas. Gosto do facto de poder andar de pijama na rua e ninguém reparar, gosto dos meus vizinhos que trazem uma garrafa de vinho, dois copos, batatas fritas e azeitonas pra rua, e estão sentados no passeio a aproveitar os raios de sol ao fim do dia, borrifando-se pro que pensa quem passa. Gosto muito dos meus amigos que lá deixei e da disponibilidade que eles têm pra estar comigo a toda a hora por um motivo ridículo qualquer, gosto da entreajuda entre malta expat, e dos preços baixos e coisas giras da Hema.

Mas todas estas coisas de que eu gosto na Holanda não compensam, nem de longe nem de perto, a felicidade que sinto quando entro no meu carro e me faço à estrada ao som da Smooth FM, óculos de sol no nariz para impedir o sol de me cegar durante a condução, a janela aberta e o ventinho quente a passar-me no rosto, em direcção a CASA, à casa dos meus Pais. A alegria intensa que sinto quando me dizem que vão fazer um jantar ou um almoço, ou vão a um festival de música e eu poder dizer: SIM, eu vou. O êxtase de poder bater à porta de um dos meus amigos mais chegados a qualquer hora, e de me mandarem entrar e ainda me darem de merendar enquanto brinco com os filhos deles.

É tão difícil explicar a quem nunca passou pela ausência, a felicidade de se estar presente a todo o momento. É a melhor adrenalina do mundo!

Deixar uma resposta