Hoje não é sexta-feira

Ouço imensas vezes a Rádio Comercial e o hit do Boss AC sexta-feira. Gosto do ritmo e sei a letra de cor porque se cola literalmente ao ouvido, mas também porque mexe comigo. embrulha-me o estômago.

Esta letra é o espelho perfeito da sociedade actual Portuguesa. Cada vez conheço mais gente que foi educada sendo hiper protegida pelos Pais, que lhes garantiram uma casinha, um curso, um carro e que lhes deram preparação ZERO para lidarem com a vida, essencialmente, com o fracasso.
Como nunca tiveram que dar ao litro senão pra estudar e ouviram N vezes “o teu trabalho é estudar, não tens que te preocupar com mais nada! Eu pago a conta da água, da luz, do gás, a renda ou a hipoteca da casa, e tu ESTUDAS que é pra teres um futuro!” há muita malta hoje em dia que pensa que tudo lhes vai cair do céu. Tal como caiu o guito pros copos à sexta, o carro e a gasolina, a casa e as contas pagas. Caiu tudo do céu, e porque eles se portaram bem e estudaram. Como tal têm direito à recompensa plena: um bom emprego! E oh Pai, arranja aí umas connections!
E tenho uns amigos aqui e ali, eles ajudam.
E agora que essa mama acabou e não há emprego? Como é que se anda pra frente? Como é que se vive?? Como é que se constrói um CV? Vê-se na net mas aonde? E onde é que eu arranjo um emprego? E uma casa? Pera lá, mas afinal quanto dinheiro é que preciso pra viver? Eh pa, deixa cá fazer contas… o dinheiro do emprego tem que dar pra comprar a roupa de marca, o relógio XPTO, ir aos concertos in, pagar jantaradas e copos de fim de semana e mais umas idas ao Algarve ou à Costa Alentejana. E o resto? O Pai e a Mãe pagam. Fico a viver em casa. É na boa, os meus velhotes nem stressam por eu entrar e sair, tenho comida à pala, tasse bem. O bom emprego há-de aparecer! Se veio pros outros também há-de vir pra mim!
Então e mudar de cidade?
Eh pa, não, os meus amigos tão todos a curtir em Lisboa e eu vou agora pro Alentejo! Brincas, não? Nem pensar!
Então e mudar de País?
Isso deve ser bacano, eu até fiz erasmus e tudo, foi curtido. Então e como é que faço? Pa, tenho lá um amigo em Londres, abanco em casa dele e logo se vê, nem que vá lavar pratos! E aquilo lá tem muita vida, e há muita borga e malta com quem estar, deve ser fixe! Ele orienta-me lá trabalho. Ele orienta casa. Ele orienta amigos. Não tenho que me preocupar. Alguém há-de tomar conta de mim! Se o fizeram até hoje, porque é que não há-de ser sempre assim no futuro? Eu até me portei bem!

Então mas faço o quê?! Amiguinho, quem não chora não mama! Vamos culpar o Governo!

Letra
Tantos anos a estudar para acabar desempregado
Ou num emprego da treta, mal pago
E receber uma gorjeta que chamam salário
Eu não tirei o Curso Superior de Otário
… não é falta de empenho
Querem que aperte o cinto mas nem calças tenho
Ainda o mês vai a meio já eu ‘tou aflito
Oh mãe fazias-me era rico em vez de bonito
  É sexta-feira
Suei a semana inteira
No bolso não trago um tostão
Alguém me arranje emprego
Bom Bom Bom Bom
Já Já Já Já
  Eles enterram o País o povo aguenta
Mas qualquer dia a bolha rebenta
De boca em boca nas redes sociais
Ouvem-se verdades que não vêm nos jornais
Ter carro é impossível
Tive que o vender para ter combustível
Tenho o passe da Carris mas hoje estão em greve
Preciso de boleia, alguém que me leve
  É sexta-feira
Suei a semana inteira
No bolso não trago um tostão
Alguém me arranje emprego
Bom Bom Bom Bom
Já Já Já Já
  É sexta-feira
Quero ir p’ra brincadeira
Mas eu não tenho um tostão
Alguém me arranje emprego
Bom Bom Bom Bom
Já Já Já Já
  Basta ser honesto e eu aceito propostas
Os cotas já me querem ver pelas costas
Onde vou arranjar dinheiro para uma renda?
Não tenho condições nem para alugar uma tenda
E os bancos só emprestam a quem não precisa
A mim nem me emprestam pa mudar de camisa
Vou jogar Euromilhões a ver se acaba o enguiço
Hoje é sexta-feira vou já tratar disso
  É sexta-feira
Suei a semana inteira
No bolso não trago um tostão
Alguém me arranje emprego
Bom Bom Bom Bom
Já Já Já Já
  É sexta-feira
Quero ir p’ra brincadeira
Mas eu não tenho um tostão
Alguém me arranje emprego
Bom Bom Bom Bom
Já Já Já Já
Bom Bom Bom Bom
Já Já Já Já
  Tem que ser BOM
JÁ!

16 comments:

  1. Confesso que não sou fã… Primeiro não ouço a comercial, que é da concorrência 🙂 e depois não gosto nem da música, nem da letra. Além disso, o meu dia preferido da semana é a 5ª feira: dia de jantar com o meu pai na praia e ter aulas de música.
    Não há nada que pague a sensação de segunda-feira de manhã: acordar com uma semana novinha e folha pela frente! Todos os dias são bons, desde que nós façamos por isso 🙂

  2. É uma verdade!! Os meninos da década de 80 (principalmente), foram super protegidos pelos papás, que a maioria quase passava fome para dar tudo ao seu rebento!! E o resultado é o que vemos. Em vez de tirar o rabo da cadeira e ir à luta, prefere atirar culpas para o Governo!!
    Não tenho pachorra para estes pseudo-sindicalistas! Ainda por cima estão amparados pelos militantes de esquerda que mais não são que meninos bonitos, filhinhos de papás que como não têm ocupação, andam para aí a instigar quem não tem dinheiro para andar de papo para o ar!
    Queres apostar que todos os festivais de musica de 2012 vão estar apinhados de adolescentes??!!

  3. Primeiros: detesto Boss AC.
    Posto isto, tens muita razão, a educação à portuguesa baseia-se muito na protecção, até exagerada, dos petizes, que assim criam pouca resistência à frustração. Só como exemplo, a certo ponto da minha vida, estando na faculdade, quis trabalhar em part time e os meus pais não deixaram. Sim, leste bem: não deixaram, que tinha era de me concentrar nos estudos. Só queria ganhar uns trocos para ser mais independente, não me tinha feito mal nenhum. Se calhar tinha-me tornado uma gaja mais desenrascada, e não era a enconada que sou. Ainda assim, há pior que eu, que nunca tive medo de trabalhar e arregaçar as mangas. Mas fazer o que tu fizeste, sair daqui e tal, bom, acho que acabava a pedir na rua…

  4. Jo, não reclamei de que seja 2° ou 3° ou 6°, há dias de que gosto mais outros menos, mas como nao tenho uma rotina, olha, os meus dias felizes sao qdo falo com as Candeias, qdo tenho boas notícias (sabias que a Shaina já fez os mínimos do ano QUE VEM? E subiu ao pódio pq, como nao é PT nao a deixaram subir ao seu lugar (PRIMEIRO) e a miúda q ficou em 2° subiu a Shaina ao pódio e deu-lhe a medalha. Não é lindo?
    Bom, adiante, dizia eu q os dias, como dizes e bem, sao o q fazemos deles. Assim como a vida. E tu não estás no "scope" desta música ou texto, pese embora a tua idade 🙂

    Ladybug, tanto me faz q sejam de esquerda ou direita. Até te digo mais: eles proprios nao sabem se sao de esquerda ou de direita. Só acham q têm DIREITOS e deveres bola. Essa é que é, a meu ver, a diferença.

    S*, é real com muita pena minha, e espero que tua tb 🙂

    Izzie, ficas sabendo que os meus Pais nao me deixaram trabalhar nem em part-time nem nas férias, e pagaram até colégios aqui à menina. MAS educaram-me pra ser desenrascada e com os anos, e pq a minha Mãe não me deixava fazer nada e eu dou do contra e torcida, fui fazendo cada vez mais coisas, e aprendendo a correr mais atrás do que quero e a ser mais desenrascada. Se não fosse o meu Pai, se a minha educação dependesse só da minha Mãezinha, garanto-te que eu era igualzinha à música e uma enconada (e infeliz) de primeira apanha. O que me valeu é que o meu Pai me cortou as bazas ao estilo: ou fazes o curso em 5 anos e sem cadeiras pra trás ou acabou Coimbra (e sim, teria acabado mesmo), e qdo acabamos o curso arranjou-nos dois ou 3 amigos mais informados que eles que nos explicaram como é que concorria nos jornais e tal e como tanto eu como o mano nao sofremos de falta de socializacao, os nossos amigos ajudaram imenso. Além disso NUNCA me pagaram férias sozinha ou borgas, ou carro. E eu tenho noção que tenho feito um LOOOOOOOOOONGO caminho e evoluído imenso! E acontecia-te a ti de certezinha como nos aconteceu a todos os q nos vimos cá fora sozinhos. E depois é tentativa erro, bate com a cabeça, pumbas, levanta!
    Eu SEI q os meus Pais estão lá pra me amparar SEMPRE, mas o que me vale mesmo foi o que escrevi no post sobre o trânsito em Bali: sou uma inconsciente e não as meço.
    O que aprendi e bem, pq isso sim ensinaram-me: a lidar com as consequências!! E as frustações 🙂

    Como vês, há solução pra tudo. Se houve pra mim, tb há-de haver pra muitos desses miúdos q aí andam 🙂

  5. Olha que belos exemplos que aqui temos, o meu pai tb não me deixou trabalhar nas férias, disse que quando era pequeno, desde a primária mesmo, todas as férias ia ajudar o meu avô que era estucador, e então quis que os seus filhos tivessem férias. Mas lá está, também nos ensinaram responsabilidade. O meu irmão quando ficou a repetir uma cadeira, fez mais outra extra porque lhe podia dar jeito no futuro, e arranjou um part-time. E eu cá estou, onde Judas perdeu as botas, e pagaram-nos a carta mas foi porque passámos a tudo à primeira, e também ninguém me deu um carro, também porque não puderam, mas cá estou. E não acho acho que o governo me deva arranjar emprego, nem que se devam arranjar crianças onde não existem para dar emprego no ensino a milhares de professores no desemprego. Enfim.. pano para mangas. Já me faz lembrar uma manifestação há uns anos contra as propinas e quem lá estavam eram meninos de Gant e chave de carro na mão.

  6. Ah, mas cá à menina também não davam nada de mão beijada. Não havia cá marcas e dinheiro para copos, tínhamos a mesada e era para governar o mês todo. Olha carro. Deram-me um carro, sim, todo velho e cheio de manias, quando eu tinha 27 anos e precisava mesmo para ir trabalhar longe. Se não mo dessem vendiam, e eu ia comprar à mesma, olha, ficou em família. Tadinho do chaço, passei umas giras, com ele.
    Sou responsável, que sou, prezo muito a minha independência e não peso a ninguém, também tive alguma sorte na vida, mas olha, um gajo faz-se ao que há e pronto.

  7. Tinha escrito um mega comentário que se foi….

    Mas basicamente dizia: concordo convosco.
    Estamos a criar adultos inaptos e imaturos, sem valores. ou melhor, que valorizam o "ter" e não o "ser".
    Isso é tão óbvio na blogosfera como noutro sitio qualquer: fico louca quando vejo pessoal a dizer que vão "poupar" lendo no ipad, que o iphone isto e aquilo (a sério? tratar um telefone pela marca?), que a marca xpto é fundamental e que o ter e o mostrar é que é importante.
    E depois faço figuras tristes quando acho ridículo que se compre uma PS ou WI a crédito (ficaram a olhar para mim quando dei uma gargalhada em plena Worten quando mo sugeriram- saí de lá em choque e não comprei nada).
    E pergunto-me se ninguém vê o que há de errado quando um miúdo de 11 anos me diz que leu 1 livro e que gostou mas que só o fez porque estava de castigo sem computador nem PS.
    Acho mesmo que os miúdos vão aprender, a bem ou a mal (e há tantas excepções boas) mas que os próximos anos vão ser lixados.
    Beijos

  8. Um gajo pode não se queixar da vida e eu letras de rap estou um bocado cheio porque são todas iguais, fico-me no sergio godinho que diz a mesma coisa mas com piada, a letra é a do facilitismo? é. Mas também, coincidência do caralho, é a letra de quem se esfalfa e não vê nada a melhorar.
    Eu até diria que a letra é piegas, não visse tanto valente a borrar-se de medo com os tempos que aí estão…

  9. margarida, tu és uma das excepções na tua geração. Pensa lá em qtos dos teus amigos não estão sentados na terrinha a queixar-se da falta de emprego? 🙂

    Izzie, o dito desenrascanço!

    (e nem de propósito, a música está a dar na rádio enqto vos respondo :D)

    Pat, todos nós inventamos desculpas pra termos o que achamos que é cool. Eu tenho uma amiga que é assistente numa creche e tem um Blackberry e diz que não passa/vive sem ele. E tem pulseiras da pandora. E… ora, como é que isto se faz? Casa da Mamã e não se dá um tusto pra ajudar lá em casa, e mto MacDonalds. Se quer mais da vida? Não. É mesmo assim.
    Do ler livros, eh pa, isso é tão pessoal. Não é por haver PS3 q eles não lêem. É pq é um hábito que se ganha e se inculque e que com a internet…desapareceu.

    Prezado, define esfalfar…pf 🙂

  10. Sempre achei que a minha mãe me super protegia. Vejo agora, com exemplos de gerações mais recentes principalmente, que se fartou de engolir sapos para me deixar ir trabalhar para Londres quando não entrei na faculdade – a minha prima também já por lá andava, não estava bem sozinha – e deixou-me trabalhar em part-time em casinhas de comidas de tias, além de outras coisas que me ajudaram imenso a ser o que sou hoje. É preciso ler estas coisas para me aperceber que, afinal, tive um percurso em que a minha mãe galinha se contorceu toda em prole do meu desenrascanço, e sei lá eu as noites que não dormiu por causa disso. Infelizmente, tendo recursos para ter um bom emprego, não o tenho; mas hei-de ser compensada, tenho a certeza disso.
    E a minha mãe é, claro, a minha heroína.

  11. Ana, às vezes não temos um bom emprego em Portugal, mas temos capacidade de ver o mundo inteiro à nossa frente em vez da terra pequena onde vivemos. Se aprendeste isso em Londres, a tua Mãe é com certeza uma heroína!

  12. Ok Andorinha, estou habituado ao sarcasmo, é das companhias, já larguei o pau afiado.

    Esfalfar é trabalhar como vejo ser habitual hoje em dia: ter um horário que é definido pelo patrão porque nunca se sai a horas, porque está tudo desorganizado e o ultimo da cadeia é que se lixa, é ainda ter de compensar a um ocasional fim-de-semana e é no fim não sentir que leva um cheque que lhe apague a memória o mês que teve de trabalho. É por aí.

  13. Prezado, mas isso a mim acontecia-me antes da crise, antes deste Governo e do anterior. No dia em que tudo o resto que eu tinha que compensava o meu "esfalfanço" me foi retirado, pus-me na alheta.
    Já agora, as pessoas a que me referia no meu post não são as que se esfalfam. Mas eu sei que há mto boa gente a esfalfar-se e que não se vê recompensado. E às vezes mudar pode ser complicado. Mudar de emprego, de cidade, de País, enfim.
    Beijos!

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