Em Andijan (a primeira cidade depois da fronteira com o Quirguistão) é muito fácil sentirmo-nos uma estrela de cinema, todos nos sorriem (com os dentes de ouro superiores em carreirinha) e dizem adeus, desejam-nos boa viagem, falam connosco em Uzbeque ou inglês (poucochinho), dizem-nos “welcome to Uzbekistan” e são muito, mas mesmo muitíssimo simpáticos!!
Aliás, a simpatia começou na fronteira.
Assim que saímos da China e entramos no Quirguistão notamos logo a diferença, mas entrar no Uzbequistão é toda uma outra dimensão! Os guardas fronteiriços sorriam com os dentes todos, perguntaram-nos se era a nossa primeira vez no País e pediram-nos pra voltarmos mais vezes. Sorriam muito, esforçaram-se por nos falar em inglês ou por gestos e diziam welcome to Uzbekistan, we hope you like our country!
Com uma entrada destas na fronteira, o pedido do nosso taxista (que era surdo) duma foto – o homem ficou todo feliz e orgulhoso -, e a recepção ultra calorosa no mercado de Andijan, estou rendida! Ainda mal comecei e já sei que um dia vou voltar ao Uzbequistão!
No mercado tivemos a ideia de oferecer ao nosso líder um ramo de rosas, em formato de coração, e cheio de gliters 😂 para que ele se sentisse apreciado e tivesse de espalhar brilho por onde passasse 😂, porque o nosso líder é Brilhante!!
O que nós nos divertimos a escolher o ramo foi priceless! O vendedor não percebia porque é que nos ríamos tanto, mas sorria.
O Pedro ficou entre o “adorei” e o “vão-se lixar que agora tenho de carregar o ramo até onde?”! 😂Valeu imenso a pena porque no fundo, também ele, é uma manteiga derretida e quem não gosta de se sentir valorizado?
À entrada da estação de comboios tivemos outro episódio que mostra a candura desta gente que nos diz “Portugal! Ronaldo! Lissabon!”. A Maria João trouxe quase um kilo de areia do deserto nuns saquinhos, vem desde a China com aquela tralha, mas só hoje a mandaram parar no raio X. Quando abriu a mala dizia: areia! Deserto! Desert! Sand!
Eles não estavam a perceber o que era aquilo, até que a Vera se lembrou de mostrar uma foto das Dunas … e deixar os homens à gargalhada. Ainda eles não se tinham recuperado passo eu e mandam-me parar. Abri a mala e diz o Senhor Polícia “china”? Eu tiro de lá duas caixinhas, uma com um guerreiro de terracota e a outra… com uma lâmpada de Aladino, que o guarda tira pra fora, esfrega e a rir-se faz o gesto do génio a sair da lâmpada, diz “puuuuufffff”e entrega-ma com uma bela gargalhada e um sorriso ainda maior!
A barreira linguística é tramada, pra sabermos qual dos pratos era borrego tivemos que fazer “méééh” e “muuuu” no restaurante enquanto apontávamos pra lista, no raio X mostrar fotos de dunas e jogar pictionary com os guardas, mas com a alegria desta gente, tudo se supera, mesmo o calor dos ananazes!!
Caso ainda não tenham percebido, estes 3 textos foram escritos durante a viagem, enquanto me deu vontade e tive tempo e inspiração.
Não descrevem o trajecto, não vos ajudam a fazer a viagem, mas explicam-vos o povo que vos espera nestes países, e o quanto vale imenso a pena percorrer a Rota da Seda.
Na continuidade do trajecto pelo Uzbequistão, fomos até Bucara onde vimos a deslumbrante Madrassa Miri-i Arab, em Taskhent e Samarcanda quase ficamos cegos com a beleza do Mausoléu e da Mesquita de Bibi Hanim, e em Khiva vimos uma espécie de “Óbidos” da Ásia Central, com tudo perfeito e imaculado, maybe a bit too perfect, just saying….
Os nossos amigos iam-nos atirando dum muro abaixo pela quantidade de vezes que dissemos “no Irão….”, porque é impossível conhecermos uma parte da antiga Pérsia sem nos lembrarmos do berço da mesma, a influência e as semelhanças são gritantes, não há hipótese. A diferença é que o Irão foi mais bem tratado pelos terramotos e guerras que teve, além de que tem claramente muito mais dinheiro para pagar a restauradores de qualidade. Os restauros no Uzbequistão foram claramente mais invasivos e re-estruturantes – será que podemos culpar os Russos? – e os grandes edifícios têm um ar demasiado limpo e organizado p’ra foto do turista. São bonitos, mas têm o tal ar: demasiado perfeito e pouco original.
Mas eu gostei mesmo muito do Uzbequistão, e não me importaria nada nada de lá voltar. Principalmente com o grupo excepcional que nos tocou, que se deu tão lindamente que ainda hoje, não só combinamos amiúde jantares e copos, como vamos viajar juntos pro Cáucaso! Tenho a certeza que esta viagem não teria sido tão fantástica se não fossem eles, e o nosso querido Líder Pedro, sempre pronto pra alinhar e descontrair connosco. O meu sentido obrigada a todos eles pela alegria de 3 semanas gloriosas!
Para acabar, uma dica e um alerta sobre os vôos: se voarem com escala na Rússia, lembrem-se que precisam de visto russo caso necessitem de voar entre S. Petersburgo e Moscovo. Apesar de não sairmos do aeroporto, temos que ter um visto para podermos apanhar um vôo interno e passar do “espaço internacional” para o interno. Nós distraímo-nos e a brincadeira saiu-nos cara, 400 euros mais cara, para ser precisa. Estejam e sejam mais atentos que nós 🙂