Nem sequer sabia onde ficava no mapa. Pensei que era Guernsey, mas não. É mesmo Jersey. Há umas quantas ilhotas todas muito próximas entre a França e a Inglaterra que são Paraísos Fiscais e têm a banca e as consultoras em peso lá instaladas.
Por motivos profissionais fui literalmente empurrada a lá ir.
No início fiquei animadita, mas depois vi os voos e vi que não dava pra ir e vir no mesmo dia e nem sequer dava pra ficar em Londres a visitar amigos numa noite de trabalho. Tinha que bater lá com os costados uma noite, numa ilha no cú do mundo, onde não conheço ninguém, com um voo de regresso no dia seguinte às 7 da manhã.
Antes de vos pregar uma seca que define as “joys” de viajar a trabalho, vou só falar um bocadinho do quão giro é levantar voo de Amesterdão em Abril e ver lá de cima os campos todos coloridos pelas tulipas, as casas todas certinhas e organizadas em bairros como se tudo fosse marcado a régua e esquadro (e é), com os lagos pelo meio, parques de bicicletas, os portos, tudo plano, tudo verde, uma autêntica casa de bonecas à escala; e aterrar numa ilha (Jersey) em que se vê do avião onde começa e onde acaba, rodeada de mar, muito verde, cheia de castelos antigos e casas senhoriais inglesas, com acumulados de casas aqui e ali, com muitos parques cheios carros e cheia de rebanhos de ovelhas.
E obviamente, influenciada pelo livro da Charlotte Bronté que ia a ler, transportei-me em segundos para o século 19 e imaginei como deveria ser tranquila e bem cuidada nessa altura.
Aterrei deliciada, confesso. Acho que esta foi a melhor (e única realmente boa) parte da viagem.
Os voos estão todos muito bem definidos e saí de Amesterdão às 10 da manhã pra chegar à uma da tarde (GMT, ou seja, menos uma hora que na Holanda) a Jersey. Não parei de porta a porta de gate pra gate. Os aeroportos de Londres e de Amesterdão são imensos, fiz “piscinas” dentro dos mesmos e foi sempre a correr e sempre a abrir. Queria estudar um bocadinho mas nem sequer tive tempo pra abrir o PC e fazer uns exercícios. É “sai de avião”, faz corredores kilométricos, de malas e portátil às costas para passar em novo check in, SMILE! pimbas mais uma foto e continuar sempre a andar até chegar ao gate rés-vés- Campo de Ourique e embarcar noutro avião.
Foi chegar a Jersey, fazer check in, engolir literalmente uma club sandwich, trocar os ténis pelas botas de tacão e começar uma reunião às 2 e meia e acabar às 7 e meia da tarde, non-stop. Chovia que Deus a mandava, foi chegar ao hotel e mandar-me pra dentro da banheira e pedir room-service.
Estava uma tempestade do caneco e o meu hotel estratégicamente escolhido ficava junto ao mar e a uma marina.
Fiquei no Radisson Blue Waterfront que recomendo vivamente caso algum dia lá queiram ir. Os quartos são impecáveis e o som do mar a bater embalou-me.
Fotos? Se virem as fotos do hotel vêem tudo o que eu vi de Jersey. Ah, e o mini mini aeroporto.
Pequena (grande) curiosidade, SETE % da população da ilha são PORTUGUESES, muitos deles Madeirenses. Mas há de tudo, fui recebida por uma Holandesa, servida por uma Húngara, o Italiano serviu-me o room-service, o taxista era Brasileiro, a minha Cliente era Portuguesa, o staff de limpeza do Cliente era todo Português, e no fim foi um Polaco que me fez o check out. As pronúncias percebem-se perfeitamente e tem a sua piada.
E foi isto que vi em dois dias. Acordei num dia às 7 da manhã e noutro às 5 e meia. Passei ao todo 12 horas dentro de aeroportos, não vi um caroço da ilha fora o que vi do avião e no taxi do aeroporto até ao hotel. Acabei arrebentadinha, com uma cara de merda, e estou morta por me enroscar nos meus cães e dormir.
Oh the joys of travelling for work! As pessoas nem pensam que na maioria das vezes não nos dão mais que umas míseras horas de reunião e que embora muitas vezes isto faça a diferença e valha a pena profissionalmente, as outras horas todas de viagem são horas que nos são roubadas ao sono ou pura e simplesmente passadas a correr de porta a porta, sempre na esperança de não se perder a ligação, logo completamente desperdiçadas. São horas da minha vida que nunca mais recupero e que não me acrescentam como pessoa.
Vale a pena viajar a trabalhar quando nos mandam a Nova Iorque e podemos ficar lá um fim de semana a conhecer e palmilhar terreno, ou à Àfrica do Sul, ou à Rússia, ou a S. Paulo ou ao Rio de Janeiro ou a Londres e temos amigos nalgum destes sítios e ficamos uns dias extra. Agora fazer horas de aviao pra tudo o que recebemos ser trabalho que fica pendente do momento em que aterramos em casa: é muito cansativo.
Mas elás, acho que há sempre um testo para cada panela, e haverá muita gente que gosta desta adrenalina e deste tempos movimentados e isolados.
Coisas de se ficar mais velha talvez. Acho que a yuppie que havia em mim morreu há uns anos.
Amén to that sister!!!! Na grande maioria, viagens de trabalho são exaustivas, longas e pouco produtivas… para 3 horas de reunião gastam-se 12. Uma treta!
Revi-me bastante neste post!
Embora a esmagadora maioria das minhas viagens de trabalho são dentro da TugolÂndia, as pessoas que vêem a minha agenda dizem sempre que tenho imensa sorte porque ando sempre a passear!
Acho que quem não tem que viajar em trabalho não percebe muito que na maioria das vezes acabamos por roubar imenso tempo pessoal devido às viagens! Sai-se cedo de casa, muitas vezes de madrugada, e chega-se muitas das vezes já depois do jantar. Já estive em 75% de Portugal, mas não posso bem dizer que o conheço! Conheço é muitas placas de autoestrada e estações de comboios.
Uma vez por outra lá dá para ir conhecer um pouco a cidade, ou sair À noite mais não seja para ver a cidade de carro ou "sentir" a atmosfera da "noite"!
A parte boa, é que ficamos com o "bichinho" de lá voltar para ver melhor, como por exemplo aconteceu na terra da Andorinha e outras.
E é sempre pouco produtivo, porque entre a viagem, a preparação das reuniões e as reuniões propriamente ditas gasta-se sempre o triplo do tempo necessário. Estou sempre a tentar incutir as tele ou video-conferências, mas o ter alguém à nossa frente é algo que está ainda bastante enraizado na nossa cultura.
Esqueci-me de dizer que também se fica a conhecer muitos hoteis!
🙂
Este post tb se poderia chamar: porque é que eu não te invejo Tuxa.
O engraçado é que em PT só me deixavam fazer conf calls, nunca me deixavam ir aos países e a falta que me fazia. Aqui não queria ir e lá vou eu.
Enfim, mas entendo-te que nas tuas viagens acabes é por ficar sem vida social, que é o que me acontece a mim. Sabes como é, a galinha da vizinha é sempre mais gorda que a minha….
"São horas da minha vida que nunca mais recupero e que não me acrescentam como pessoa." Completamente de acordo, minha querida. Por isso é que eu também não sou yuppie nas viagens, sou mais hippie :)) Viajar, para mim, é sempre sinónimo de férias, conhecer, visitar. (E, isso sim, é tão bom.) 😉
PS: casas senhoriais?! Castelos antigos?! Jersey here I come…! (one day, may be…) 😉
Jersey é uma ilha que quero visitar porque tem uma das maiores colecções de animais do mundo no Zoo de Jersey, do Gerald Durrel, o naturalista e escritor (não sei se leste 'A minha família e outros animais'). Um dia destes…
Eu vi que tinha mta publicidade ao Zoo, mas eu fui só lá mesmo trabalhar e estava um temporal enorme, nem que eu quisesse ter visitado alguma coisa, não teria conseguido. Mas fica a dica pro caso de precisar voltar.
Já visitei, é muito linda, vale a pena