Sabem aquela coisa do “blend in”, do “ah e tal até me perguntaram se eu era local”? Na China esqueçam 😂
Obviamente impossível.
O que sim é possível, é passar horas infinitas a observar este povo:
- como os casais novinhos andam na rua de braço dado, com eles a carregar as compras delas e a carteira/mala das madames, que usam bandoletes com orelhas de gato brilhantes, de diabo vermelhas e tules, rendas, mais tules, mais desenhos;
- como se sentam na sua posição de cócoras para descansar (se nunca experimentaram façam-no…é impossível a um ocidental manter o equilíbrio e apertar as articulações assim…);
- como falam, que mais parece que estão sempre a mandar vir uns com os outros;
- como se comunicam connosco por gestos e se riem à farta;
- como nos tiram fotografias à sucapa e ficam envergonhados como crianças de 3 anos quando os apanhamos (o que mais gosto é de lhes ficar a dizer adeus ou espetar o dedinho em sinal de “fixe” 😁);
- como se vestem super bem e com elegância – apenas aqueles que percebem que mais é menos;
- como são efectivamente milhões de pessoas e tudo está sempre cheio e ao barrote, mas ninguém tropeça em ninguém!
Outras impressões soltas, mas que foram efectivamente as mais marcantes neste povo tão diametralmente diferente de nós:
- Custa ultrapassar o nojo constante cada vez que os ouvimos a “puxar a culatra atrás” e escarrar com uma violência atroz, tanto homens como mulheres, é arrepiante e dá imensa vontade de vomitar!
- As lojas de telemóveis que são pra lá de milhares, … juro que não compreendo como podem todas fazer negócio. Mas e daí… são milhões de Chineses, logo…
- A comida deliciosa que me põe a comer sopa com dumplings logo de manhã e adorar, eu, que não sou capaz de comer nada até às 11 da matina….mas que faz com que termine cada refeição com o estômago aconchegado.
- Não falam um cú de inglês mas comunicam connosco em chinês até verem nos nossos olhos que efectivamente não os estamos a perceber… e aí mudam pra linguagem gestual e conseguem-se fazer entender!!
- O sorriso amarelo foi inventado na China…
Em Xijang a coisa muda de figura, há Yugurs de olhos verdes, muito simpáticos, crianças a correr pelas ruas, com os mais velhos a arreliarem os mais pequenos, putos de ano e meio, dois, sozinhos a passear sozinhos pelas ruas como no Portugal dos anos 50 e 60.
Uma cena marada, foi termos que sair do carro nas bombas de gasolina, porque só o condutor tem direito de acesso. O carro entra, enquanto nós esperamos todos pacientemente cá fora. Atesta, e volta a sair, e nós entramos… so weird…
Mil postos de controlo, polícia por todo o lado que nos pede os passaportes de hora a hora, máquinas raio-X p’ras malas, mais sorrisos amarelos dos Chineses que se impõem sobre um povo que quer ser independente e não consegue. Esta zona faz fronteira com 8 países e é considerado pela China como ponto estratégico de defesa, ou pelo menos é o que dizem os livros de geopolítica (Prisioners of Geography).
Imensos prédios vazios à espera de ocupantes que os Chineses querem que sejam populados pelos seus. Cidades fantasma inteiras perdidas no meio do nada.
Pra virmos ao lago e às montanhas junto da fronteira com o Paquistão tivemos que contratar uma agência, não nos deixam vir sozinhos como antes. Todos são controlados, os locais e os ocidentais. É impossível não nos sentirmos vigiados, e castrados.
As Pamir são estonteantes, estupidamente bonitas, deslumbrantes, e imagino que para os mercadores da Rota da Seda, muito assustadoras. Tenho à vontade umas 300 fotos das montanhas, são todas powerpoints em potencial. Os lagos azuis e verde esmeralda, as montanhas nevadas e os prados verdejantes tudo num mesmo enquadramento é quase um absurdo. Mas existem, que eu vi, com estes olhos que a terra um dia há-de comer.
A China não oferece meio termo na compreensão, aliás, não oferece compreensão, só espanto e aceitação. Ou se aceita que a cultura deles é diametralmente oposta à nossa e que não há como comparar e compreender, ou sai-se de lá com a única vontade de nunca mais voltar. Eu pessoalmente gostei, achei-lhes piada, desisti de os entender e limitei-me a observar. Eu estava na terra deles, não eram eles na minha, e por isso, é comer e calar, e não ficar de olhos em bico.