O que é que eu penso quando me estão a falar sobre como é ser-se Mãe ou Pai:
– Homens: 95% das vezes penso na minha sorte em não ter copulado com o elemento e ser agora a pomposa mulher e mãe das suas criaturas. Deixo esses 5% que restam para aqueles muito raros que me inspiram um: este tipo é um Pai bestial!
Por isso, quando me perguntarem se não quero ser Mãe, OUTRA VEZ, lembrem-se disto: eu vou estar a olhar pra vocês e a pensar: no fucking way, nem que me pagassem. Não tenho outro pensamento a cruzar-me a mente, juro.
– Mulheres: 95% das vezes vou estar a pensar neste texto do João Miguel Tavares no Pais de Quatro:
“e a mãe continua a trabalhar muito mais dentro de portas, continuando a ser a grande “sacrificada” (um dos adjectivos favoritos das mães de família).
Ainda que eu não negue a existência desse desequilíbrio, faço questão de chamar a atenção para um aspecto do problema que tende demasiadas vezes a ser esquecido na discussão: o poder. O poder das mulheres dentro de casa. O poder que elas detêm sobre todos os aspectos da vida doméstica: sobre onde vamos quando saímos, sobre o que os miúdos vestem, sobre o que fazemos no fim-de-semana, sobre que empregada devemos contratar, sobre que móveis devemos comprar, sobre onde vamos passar as férias, sobre tudo e um par de botas.”
E nisto que foi dito por uma moça nos comentários, assumindo que a responsabilidade “do sacrifício” é dela. Este bocadinho é duma humildade e auto-conhecimento que poucas, muuuuuuito poucas mulheres têm:
Mas há, no meu ponto de vista, duas questões diferentes. É um facto que estou chegada ao ponto em que sinto que só eu é que sei fazer as coisas e tomar as melhores decisões, e que isso tira a vontade a qualquer um de “se chegar à frente”. É para ver a febre às três da manhã? É melhor ser eu. É para ir ao supermercado? É melhor ser eu. É para estender a roupa? É melhor ser eu. É para ir falar com o professor? É melhor ser eu.
Mas também é um facto que com a chegada dos filhos, eu tive que me “chegar à frente”. Há uma série de coisas que não podem falhar a partir do momento em que há crianças (há sopa feita? há leite? o bibe está lavado? os sapatos ainda servem? ), e apercebi-me logo após o nascimento da primeira, que se eu não deitasse mãos à obra, algum dia a criança ia ficar sem comida/roupa/remédios, e que os mínimos da organização, arrumação, limpeza, não estariam garantidos (sim, sim, os mínimos que eu estabeleço, certamente muito diferentes dos que seriam estabelecidos pelo pai).
Depois é sempre a subir. Cada vez chamamos mais tarefas à nossa responsabilidade, cada vez mais a outra parte se demite (o que convenhamos, dá um jeitaço).
A questão que eu coloco…Haverá retorno?”
Pois é, haverá retorno?
Como a maioria das mulheres que conheço não têm sequer consciência da seriedade do problema e da enrascada em que se meteram, fica aqui este pedacinho de texto pra refletirem.
E do qual se devem lembrar quando me estiverem a fazer a p… da pergunta imbecil pela quinquagésima vez enquanto me dizem que estão muito ocupadas a serem mães pra aturarem aqui a imatura, ou seja, eu.
Pronto, agora experimentem lá perguntar-me outra vez se quero ser mãe que já sabem com o que me vai na alma e aquilo que não vos digo pra poupar mais uma discussão. Ou aquilo que já vos disse mas que vocês preferiram não querer perceber ou mal interpretar.
Recado dado.