O fim da vontade de viver.
Quando a vontade de ver, ouvir e comunicar com quem nos rodeia se esvai…não sobra nada senão cerrar os olhos e adormecer. Perdemos a vontade de comer, de estar neste mundo e resta-nos um sono profundo, e esperar lentamente que os braços da morte nos venham recolher docemente.
Nestes momentos, quem nos rodeia reage de várias formas. No desejo de te recordar como eras (generoso, alegre, resmungão, impulsivo, exigente, decidido, brincalhão, pandego…) despedem-se de longe. Outros preferem acreditar que ainda nos consegues ouvir e sentir, mesmo nesse sono pesado de olhos cerrados à luz, corpo dormente e quase inerte.
Por tudo o que me ensinaste e me deste, sem julgar a decisão de ninguém, preferi fazer parte do segundo grupo. Fiz-te festas no cabelo e na testa e senti a tua respiração acalmar. O meu carinho e amor por ti foram sentidos e respondeste. Sei que me ouviste dizer o quanto gosto de ti e que hoje ensinei o teu bisneto a fazer corridas de folhinhas no regato.
Memórias de um passado distante, mas que representam o melhor da minha infância e que tratarei de passar aos meus filhos e aos teus bisnetos. Todo o meu amor foi entregue na acção inocente de ensinar o João a ver os “barquinhos” correr e torcer para que sempre corram veloz e sem paragem naquelas águas limpas.
Vou contar a todos como tive o privilégio de ter o melhor Padrinho do Mundo!, o único que foi capaz de superar sempre o meu Avô.
TU foste o meu Avô, não por laços de sangue, mas sim pela devoção infinita que me dedicaste. A mim e ao meu irmão, da mesma forma que o dedicaste aos teus netos, sangue do teu sangue.
Porque te amei e porque te amo, vou-te deixar partir, porque esse é o teu desejo.
Sossega agora e sente a minha mão sobre a tua testa.
Respira tranquilamente e dorme.
Dorme com os anjos ao teu redor.
Um dia longínquo voltaremos a encontrar-nos, e no dia do meu casamento a que tanto querias assistir vou-te sentir ao meu lado, e falar a todos do meu Padrinho, Tio-Avô que está ali a ver-me feliz, a continuar a abraçar a vida, dia após dia, com garra, serenidade, amor e muitas histórias para contar.
Estarás sempre comigo.
Tu que nos ensinaste a todos a conduzir, deixa-te agora conduzir pelas mãos de Deus e descansa em Paz.
Amo-te.
Dedicado ao meu Tio Aprígio, nosso Patriarca, meu Padrinho, meu Tio-Avô, meu Avô!