Back on the horse

Vou voltar a viver em Amsterdão.


A decisão foi tomada depois do meu post depressivo.
Na sequência do comentário da Tuxa, fui ao funda.nl com um único pensamento: se houver uma casa no Pijp assim toda piti como eu gosto, alugo e não se fala mais nisso, até deixo que me depenem 1500 euros! É sinal que tenho que mudar. Quero um sinal!!
Não consegui ver se havia casas no Pijp porque o motor de busca não me obedecia, não aparecia resultado algum a não ser o desta casa que aluguei. Tudo ia lá chegar. Tudo o que eu pesquisava abria ali.
Tanto bateu na mesma tecla o motor, que acabei por espreitar as fotos e localização da casa.
Já devias ter aprendido a não contrariar estas coisas ó Sofia Maria!
Hoje fui visitá-la, já com a ideia de preços de empresas de mudanças, com contactos de pessoas para pintar e para colocar o chão, e com a ideia de realmente há coisas que têm muita força. 
Motivos mais que racionais para mudar extra “instinto” e “intuição mais que extraordinária” (que já me trouxe à quarta casa em menos de 3 anos... todas perfeitas para mim, é certo, e em momentos de vida distintos, cof cof cof):
– A mama de só ir al despacho três vezes por semana acabou quando houve a tal “promoção”…. Há 3 semanas que andava a passar no mínimo duas horas por dia dentro do carro, e isso não é p’ra mim, claramente. Não ter vida pessoal e dispensar duas horas do meu dia dentro de um automóvel é pra quem vive, sei lá, na Baixa da Banheira (como a Pipi, carai) e não quer ter vida pessoal. Não é p’ra mim.
– Consegui uma casa perto da IBM, mas próxima do centro da cidade, com garagem por um preço que considero mesmo muito razoável. E eu nunca achei os preços em Amsterdão razoáveis. Em quinze minutos de bina estou no centro, noutros quinze estou na IBM. No verão a viagem a pedal vai acontecer sempre que não chover (cof cof cof, são cinco minutos de carro, de relógio…!). Vou acordar às oito e meia para estar no escritório às nove, em hora de ponta. You must be kidding me.
– É uma casa novinha em folha tal como a minha casa de Den Haag, moderna, cheia de janelas, e uma varanda enorme com vista para um lago. Notam que há aqui algo que claramente se repete, ou sou só eu?
– Tem banheira. Nunca menosprezem a importância duma banheira na vida duma mulher.
– Tem uma vizinhança simpática como eu gosto, e fica mesmo ao fundo da rua de que mais gosto em Amsterdão.
Basicamente encaixa em todos os requisitos que eu pretendia quando dizia: só volto p’ra Amsterdão se A, mais B, mais C, mais D!!
E assim foi. 
Juntaram-se as letras todas, e lá vou eu aviada novamente, reclamar do cheiro da erva, e dos tróleis dos turistas e andar de bicicleta como é bom p’ra tosse. Dizem que dá carácter!
É muito bom o carinho de tanta gente que me escreveu, que me telefonou, que comentou, eu tenho mesmo muita sorte.
Se calhar é porque sou sempre tão animada que um dia de blues causa mesmo muito impacto.
Eu sou naturalmente bem-disposta. Quem me conhece sabe que me auto-animo, me auto-convenço de que as coisas vão correr bem e que dificilmente me vou abaixo.
Mas quem me conhece mesmo muito bem sabe que a facilidade com que eu dou a volta por cima é … no mínimo espantosa.
Como diz um autor de que agora não me recordo o nome, quando se toma uma atitude ou uma decisão, não há fracassos, há resultados. Uma acção não produz coisas boas ou más, produz coisas. Como dizemos na Candeia, produz cenas.
Dia um de Abril mudo de casa, e tenho consciência plena de que todas as casas onde estive me serviram para aprender a saber o que quero hoje. A de Amsterdão (inicial) ensinou-me a escolher o bairro, a de Breukelen ensinou-me a escolher sítios perto de gente amiga e a privilegiar a escolha duma casa perto de estações de comboio para fácil locomoção, a de Den Haag ensinou-me que há casas grandes na Holanda e a estar atenta a este tipo de edifícios para… poder encontrar a nova de Amsterdão.
É assim que penso, é assim que me auto-regenero: na mudança.
É claro que não sei se fico por aqui, ora essa, que pergunta!!
Eu sei lá bem o que vou comer amanhã, quanto mais se esta casa é a última!

A casa dos meus sonhos continua a estar em Lisboa, mas a minha casa é onde ela estiver.

O mal é sono

Há dias em que não apetece adormecer.
Não apetece acordar.
Não apetece comer.
Não apetece rir.
Apetece chorar. Ficar escondida até que o sol saia e os blues se vão embora.
Há dias em que há uma tristeza tão cinzenta como o cabrão do céu que me cobre.
Dias há em que todos os esforços que envidamos para nos animar parece que pura e simplesmente não resultam.
E nem sequer é hormonal.
É só cansaço. Aborrecimento.
Preciso urgentemente de duas coisas: sol e duma relação com um tipo como deve ser.
Este fim de semana foi estranho, e no fundo foi uma seca. Valeu a feijoada na sexta.
Agradeço o telefonema dos amigos que estão longe.
Fora isso, bela merda.
Não gostei do meu sábado, foi muito intenso, muito estranho, comigo a querer ser simpática e politicamente correcta, e a dizer asneiras consecutivas.
Conheci pela primeira vez um casal de lésbicas e descobri que tenho alguma dificuldade em lidar com a situação.
Acima de tudo tive que assumir perante mim mesma que depois de tanto livro e activismo, ainda sou preconceituosa.
E não gostei de me ver.
Não sei se quero viver em Amesterdão outra vez porque no fundo não gosto do cantos, recantos e cheiros. Mas estou a ficar farta de ter os amigos todos longe.
O certo é que quando lá vivi, também não os via assim tanto. Mesmo os meus vizinhos, que são uns amores, nunca os vejo. Sou eu quem se fecha.
No Domingo fiquei em casa o dia todo porque precisava de silêncio, organizar ideias. Fiz um frango no forno que estava um nojo. Acho que o vou deitar fora porque não consigo comer aquilo.
Usei aquela coisa de “frango no saco” do PD. Não presta.
Acho que este foi o post mais depressivo que escrevi nos últimos anos, mas é que hoje é mesmo dia não. Dia cinzento.
Preciso de sol. Preciso de calor. E definitivamente, preciso de dormir.

LEGENDARY

É tudo o que se me apraz dizer sobre a melhor festa que já dei. Ontem foi a minha (muito tardia) housewarmingparty e festa de pré-aniversário (este termo acaba de ser inventado por mim, tipo, agora).
Os meus amigos são uns fixes inacreditáveis.
Mesmo.
Eu tenho muita, muita sorte.
Vieram 30 e pico pessoas das quais apenas 8 vivem em Haia, por isso mais de 20 pessoas vieram de Amsterdão e Utrecht e … de propósito para conhecer a minha mansão e beber um copo e espalhar boa disposição. E foi mesmo muito giro. Eu sei que sou suspeita, mas eu acho que toda a gente se divertiu bastante, pelo menos a avaliar pelo estado da casa hoje de manhã. Quando acordei e cheguei à sala e o chão colava aos pés e os copos estavam em sítios inimagináveis, pensei: LEGENDARY!
E ainda por cima deram-me prendas! Até a Petzi teve sorte porque agora tem uma malinha específica pra eu a transportar ao colo que é pura e simplesmente deliciosa!
Como eles todos.
Já disse que tenho muita, muita sorte? É que tenho mesmo.

Hoje quando acordei, tinha os super Mario Bros na minha janela

Juro.

Saio do quarto a espreguiçar, ouço umas vozes e sinto o cheiro a tinta e penso: estão a pintar o hall.
Completamente a dormir chego à minha sala onde tenho a dita janela de parede a parede de 5 metros e 60 e estão dois “manos” a pintar a varanda enquanto me dizem adeusinho. Como bons Holandeses, são enormes, e estes on top são gordos. Um é loiro e o outro é moreno, e o moreno tem um casaco com pelinho na gola, meeeeeesmo mesmo como o dos Super Mario Bros.

O Cromo

O Nuno Markl não é um cromo, é o O cromo.

No fim de semana passado fui a Lisboa.
No Domingo, na volta, sozinha sem a minha Petzi, aborrecida que nem uma ostra, passei na livraria do aeroporto e vejo o livro “Caderneta de Cromos”.
Lembrei-me duma amiga que pediu ao Pai pra lhe comprar os cromos na FNAC (enquanto há porque a edição é limitada) porque ela vive cá na Holanda, e de ter comentado o espanto do Pai por ela estar a pedir tal coisa, afinal de contas: são cromos!
Pra ela pedir ao Pai, tem de ser bom.
Na contra capa dizia: a enciclopédia definitiva sobre o que tanto nos deliciava nos anos 70 e 80.
Strauuuu!
Foi tiro certo ao meu coração de saudosista. Afinal vale a pena ter mais de 30 anos pá!
Quinze aéreos que custava o dito. Baratinho. Outro tiro certo.
E penso: isto é altamente pra um dia explicar ao meus filhos como é que isto era “no meu tempo”!
Abro e começo a ler uma história sobre os granizados Fá. Em plena livraria começo a rir. No autocarro (que deixa sempre os nossos turistas extasiados, como se estivessem a regressar de Cuba) continuei à gargalhada.
Mas o cúmulo foi, de repente, ouvir o meu vizinho do lado a rir. E não sorria docemente, gargalhava ao mesmo tempo que eu. Sim, ele estava a ler o livro por cima do meu ombro e ao mesmo tempo.
Fomos os dois a partilhar histórias de infância durante o vôo. Para não variar, não faço puto de ideia do nome do homem. Ri até me doer o estômago. Foi a viagem mais divertida que já fiz.
Todas as noites durante 4 dias li o livro antes de me deitar. Daquele livro vêm memórias e uma boa disposição e energia francamente boas.
Um amigo falou-me dos podcasts da Caderneta. Eu nem sabia o que era um podcast!
Hoje no iTunes vejo como recomendado (e grátis!) os podcasts da Caderneta de Cromos.
Foi um vê se te avias! Desatei a despejar o que podia para a oitava maravilha do mundo que é o meu iPod (ah comprinha abençoada caramba! Nunca dei tanto uso a uma engenhoca, nem ao telemóvel!).
Graças aos amigos, na viagem ao Luxemburgo, descobri que o meu carro permitia ligar o iPod ao rádio.Ultimamente tem sido um fartote de audiobooks e as minhas viagens nunca mais foram um tédio.
Hoje foi A descoberta: iPod carregado de “cromos”, ligado al coche e a bombar como se estivesse no trânsito matinal, e eu à gargalhada até casa.
Já ouviram o cromo da fotografia de passe? Em que o Markl confessa que lhe tiraram uma foto de passe fabulosa quando tinha 14 anos, foto essa de que as colegas diziam “até pareces giro na fotografia” e que passava horas em casa a “treinar a expressão” da foto, até que uma colega de manhã quando o viu na escola lhe pergunta: ouve lá, mas isso é sono ou tás drogado?!
Felicidade, total bliss, é o que é.

A minha casa em Den Haag, finalmente pronta. Família e amigos, podem afiar o dente, toca a comprar o bilhete de abión.

O quarto de hóspedes:

O meu quarto (antes do quilt):

O corredor, cheio de fotos de viagens anteriores:

A minha sala, com bagunça generalizada também, que isto é casa de gente, não de bibelôs:

Cozinha:

E já tá. Desde Novembro até agora, acho que não ficou nada mal. Já tem quadros, tem plantas, tem cortinas, sofás e colchas e até as visitas agora têm direito a uma cama como i’ll faut em vez do colchão de encher ou do sofá desdobrável.

Mas o mais importante é que realmente me sinto em casa. Na MINHA casa.