Foi isto que me disse um amigo do meu irmão depois de eu lhe relatar a minha chegada ao aeroporto do Porto.
Eu fui no dia 22, sábado, a pensar que teria um dia mais calmo que a sexta-feira.
O avião estava cheio, mas está sempre. É um Fokker 100, não cabia nem mais uma agulha lá dentro.
Levei os 3 cães comigo e quando cheguei ao Sá Carneiro fui buscar os cães à bagagem sem formato.
Lá estavam a Petzi e o Bitoque completamente histéricos. A Juicy tinha ido na cabine comigo na mochila vermelha. Estava lá também um piloto giro à brava que me pediu pelas alminhas pra eu tirar os cães da caixa pra ele os ver e eu fui uma otária e libertei-os. Foi o caos. Fizeram logo xixi (limpa Sofia!) e o Bitoque fez cócó no caminho pra saída. Apanhei o “sim senhor” do chão (já disse que fui muito estúpida ao libertá-los?), deitei-o no WC e segui com os dois pela trela e a Juicy às costas. A Petzi lembrou-se de largar o calhau a meio do corredor “Nothing to declare”. Lancei mão dos lenços de papel novamente e apanhei o dito cujo do chão.
Furiosa comigo mesma e com o giraço do Piloto, saio pela porta das chegadas e fico cegueta com os flashes e os telemóveis todos apontados a gravar o vídeo da chegada de alguém que não era eu.
Costumam estar umas cem pessoas por lá àquela hora.
No dia 22 estavam certamente bem mais de 300 a puxar pras 500.
Nunca tinha visto tanta gente naquele aeroporto. Estava tudo à espera dos filho(a)s, maridos, amigo(a)s. Tinha aterrado também um avião que vinha de Lisboa e outro de Londres. E eu a ser filmada porque tinha um cão numa mochila e mais duas gotas de água no chão. De repente há um senhor e uma moça que desatam a bater palmas à minha passagem.
Eu não sabia se rir ou se chorar. De repente aparece-me à frente uma amiga da Candeia. “Olá, tás boa?”; “Eu estou, e tu?”; “Estou à espera do João, está em Londres, mas vamos passar o Natal cá em cima”; “Ah.” (cabeça a mil: pois Sofia, faz sentido, eles casaram no ano passado, faz sentido, sim, ele foi agora mas ela ainda cá está). “Então e tu Sofia, chegaste agora mesmo não foi?”. “Maria, tenho um cagalhoto no bolso”.
Acho que ela pensou que eu tinha andado a fumar o que não devia antes de me meter no avião, mas eu estava era a suar por quantas tinha porque estava demasiado agasalhada pros 12 graus do Porto, stressadíssima porque os cães estavam histéricos porque apanharam um susto enorme na descolagem (de tal modo que se ouviu os latidos deles na cabine) e ainda por cima estava naquele preciso momento a chegar à conclusão que a reportagem que tinha lido no ionline naquela manhã não era exagerada como eu pensava.
Estava completamente siderada, em transe, eu não queria acreditar. Não tinha palavras.
O ionline foi à Portela entrevistar as pessoas que chegavam pro Natal: a nova vaga de emigração apenas comparável à dos anos 60.
Este gajos dramatizam sempre, fonix! Que exagero! Também não é preciso tanto!
Ou assim pensei até aterrar e ver aquele espectáculo todo.
Chegada a Braga larguei os cães em casa e vim pra rua onde decorriam a festa de encerrramento de Braga Capital Europeia da Juventude. Fui ter com o meu irmão. Comigo estavam os meus Primos mais novos de 24 e 27 anos. Foi a primeira vez em 16 anos que nos juntamos os 4. Um vive em Angola, e eu aqui. Os nossos irmãos em Portugal. Finalmente juntos e com idade pra beber uns canecos e assim foi.
O meu irmão estava num jantar com os amigos dos tempos da faculdade. Todos eles de Economia e Gestão. Eles tinham montado os seus próprios negócios, tinham lojas de delicatessen, restaurantes, empresas próprias ou exploravam as dos Pais. Quatro deles tinham emigrado no ano passado.
A pergunta que mais se ouvia na rua não era o típico Bracarense “E quê?”, mas sim “E tu, onde estás?”. Moçambique (resmas, paletes, contentores de Bracarenses em Moçambique, acho que o Farol, o Viana e o Bracara lá devem lá estar em peso), Angola, Rio, São Paulo, França, Suíça, Londres e como não, Holanda.
Inacreditavelmente, no dia em que celebravam a Juventude de Braga, nas ruas só se via malta da minha idade ou mais velha. “São os que ainda têm algum poder de compra porque se aguentaram bem no tempo das vacas gordas e ainda têm bons empregos; ou então emigraram já com emprego garantido e as coisas correm bem. Como tu”. Esta foi a resposta que levei quando me espantei pela quantidade de gajos da minha idade que vi na rua. Todos mais gordos e muitíssimo mais carecas, já agora. Ser mulher é altamente. Aquilo era a festa da mangueira. Por cada seis homens havia uma mulher. Outra que também não entendi.
E foi assim que relatei a loucura do aeroporto. Que relatei o meu espanto com esta profusão de emigrantes e gente espalhada pelo mundo inteiro e o Gil me disse: pois é, isto agora está assim. O último a sair que apague a luz.